O que o tuíte de Carlos revela sobre o populismo de
Bolsonaro
“Sem dúvidas, nem o Parlamento, nem o Poder Judiciário são
hoje agentes de mudança, mas freios à transformação e ao progresso.” A frase
está no texto em que Alberto Fujimori justificava o autogolpe que fechou o
Congresso e desfigurou os tribunais do Peru, em 1992. Poderia ter saído também
da caneta de qualquer político populista de 2019.
O tuíte em que Carlos Bolsonaro lamenta a demora no avanço
do país “por vias democráticas” carrega a substância daquela mensagem. O
vereador não anunciou a implantação de um regime autoritário, é verdade, mas
reproduziu bem a doutrina bolsonarista contra as instituições.
Governantes incomodados com os contrapesos do poder costumam
culpar as limitações impostas pela democracia. O argumento seguinte é o de que
a vontade do povo só será cumprida se os líderes puderem remover todos os
obstáculos.
Essa é a linha clássica do populismo. Não por acaso, Jair
Bolsonaro e seus aliados têm o hábito de apresentar as instituições como
entraves às tentativas de mudar o país e de implementar seu programa.
Quando declarou que, numa democracia, as transformações
podem demorar, o filho do presidente parecia pedir calma a eleitores
impacientes, mas também reforçou mais uma vez aquele desconforto.
Meses atrás, o pai já havia feito uma propaganda explícita
desse incômodo com os freios da política. “Que poder, de fato, tem o presidente
do Brasil? Até o momento, como todas as suas ações foram ou serão questionadas
no Congresso e na Justiça, apostaria que o presidente não serve para nada”,
dizia um texto divulgado por Bolsonaro, em maio.
Jogar a culpa no “sistema” pode ser só uma estratégia para
ganhar tempo, mas também contribui para nutrir uma insatisfação generalizada
com as instituições democráticas. Líderes que tentam restringir a atuação de
outros órgãos gostam de apelar para esse sentimento. Há 27 anos, o desprestígio
do parlamento peruano levou mais de 80% da população a apoiar o golpe de
Fujimori.


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