Um novo conjunto de informações que veio à luz nos últimos
dias deixa em situação incômoda o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e outros
membros de sua família.
Os áudios que esta Folha e outros veículos
divulgaram, nos quais Fabrício
Queiroz conversa com um interlocutor desconhecido, e desdobramentos acerca
da investigação do assassinato de Marielle Franco, levantam dúvidas e
questionamentos que demandam respostas.
Queiroz, policial militar aposentado, foi por mais de dez
anos assessor e motorista do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. Antes
disso, desde a década de 1980 mantinha relações de amizade com o atual
mandatário.
O próprio Bolsonaro destacou o vínculo, em dezembro do ano
passado, ao afirmar que fizera um empréstimo pessoal ao ex-assessor do filho,
na tentativa de explicar um depósito de R$
24 mil na conta de Michelle, a atual primeira-dama.
Exposto, Queiroz tentou sair de cena, enquanto o caso, que
também envolve as atividades de Flávio, passou a ser investigado em
banho-maria, tendo sido congelado em julho, em decisão do presidente do STF,
Dias Toffoli.
Nos áudios, Queiroz não deixa dúvida sobre a gravidade dos
elementos que acredita terem sido reunidos pelo Ministério Público —refere-se a
eles como uma ameaça “do tamanho de um cometa”.
Diz também que discutiu com o presidente a demissão de uma
funcionária fantasma, que se enquadraria no esquema fraudulento conhecido
como “rachadinha”.
A biografia do ex-assessor contribuiu ainda, desde o início,
para reforçar evidências que aproximam membros da família Bolsonaro de
integrantes das milícias cariocas. Esses laços nebulosos mais uma vez
provocaram inquietações com a exposição de um depoimento
controverso que consta das investigações sobre o assassinato de
Marielle Franco.
O principal suspeito do crime, o sargento aposentado da
Polícia Militar Ronnie Lessa, reuniu-se com outro acusado, o ex-policial
militar Élcio Queiroz, no condomínio da Barra da Tijuca, no Rio, onde o
presidente tem uma casa.
O encontro teria ocorrido no dia do crime, em 14 de março de
2018. Segundo um porteiro do local, Élcio disse que iria à casa de Jair
Bolsonaro, que no entanto estava em Brasília. O
presidente negou enfaticamente ligação com o crime, e o próprio Ministério
Público diz que o depoimento do porteiro não tem apoio em provas técnicas.
Mas o problema não se encerra nesse aspecto. Na realidade, é
o esclarecimento do assassinato de Marielle e das suspeitas contra
Fabrício Queiroz, com todas as suas implicações, circunstâncias e
envolvimentos, que o país aguarda.
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