Deus, Pátria e Família era o lema do integralismo, movimento
de inspiração fascista fundado por Plínio Salgado em 1932. Deus, Pátria e
Família é o lema da Aliança pelo Brasil, partido lançado pelo presidente Jair
Bolsonaro em 2019.
Os dois grupos de ultradireita são separados por 87 anos e
duas ditaduras. Unem-se no apelo à fé, ao nacionalismo e ao anticomunismo para
mobilizar seguidores e disputar o poder.
Os integralistas buscaram referências na Europa. Salgado
chegou a ser recebido por Mussolini, que comandava a Itália com seus milicianos
de camisas negras. Voltou decidido a copiar o modelo de Estado autoritário, com
partido único, hierarquia rígida e submissão total ao chefe.
Alguns rituais do fascio foram abrasileirados. A saudação
com o braço esticado ganhou a companhia do grito indígena “Anauê!”. Em tupi, a
palavra significa “Você é meu irmão”. Os integralistas desfilavam de camisas
verdes e, a exemplo dos nazistas, se engalanavam com braçadeiras. No lugar da
suástica, exibiam a letra grega sigma.
“O símbolo lembra que o nosso movimento tem o significado de
integrar todas as forças sociais do país na suprema expressão da
nacionalidade”, explica o site da Frente Integralista Brasileira, que cultua a
memória e o ideário de Salgado.
Na quinta-feira, o grupo celebrou a reciclagem do lema pelo
partido de Bolsonaro. “É mais uma demonstração do quanto estão vivos os ideais
essencial e sadiamente cristãos e brasileiros do integralismo”, festejou, nas
redes sociais.
O historiador Odilon Caldeira Neto, da Universidade Federal
de Juiz de Fora, vê traços de continuidade entre os dois movimentos. “O
integralismo ajudou a formar uma cultura política nacionalista e autoritária”,
explica.
Autor do livro “Sob o Signo do Sigma: Integralismo,
Neointegralismo e o Antissemitismo” (Eduem, 2014), ele acompanha os pequenos
grupos que se espelham em Salgado. Depois da extinção do Prona, do ex-deputado
Enéas Carneiro, eles se aproximaram do PRTB, do vice-presidente Hamilton
Mourão.
Com a eleição de Bolsonaro, os neointegralistas encontraram
um governo partilha suas bandeiras ultraconservadoras. Isso não significa que a
Aliança pelo Brasil seja uma nova versão da Ação Integralista Brasileira. O
mundo é outro, os personagens também.
Plínio Salgado cultivava veleidades intelectuais. Circulou
com os modernistas e escreveu cerca de 70 obras. Bolsonaro e seus filhos não
têm intimidade com os livros: preferem os vídeos do guru Olavo de Carvalho. O
líder integralista admirava Mussolini, fuzilado em 1945. A família presidencial
mira-se em Donald Trump, que sonha com a reeleição em 2020.
Na campanha, o capitão usava uma camiseta com a frase “Meu
partido é o Brasil”. Para o historiador Caldeira Neto, a criação da Aliança
reforça o caráter antissistêmico do bolsonarismo. “Ela nasce como um partido e,
ao mesmo tempo, como um antipartido”, define. Ao mesmo tempo, o clã promove uma
“purificação” na tropa, abandonando os dissidentes no PSL.
No que isso vai dar? “Ainda é uma incógnita”, diz o
professor da UFJF.
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