Dois dias após o pedido
de desculpas de Jair Bolsonaro (PSL) por um vídeo em que, exibido como
um leão, o presidente era atacado por hienas que representavam o STF, partidos
políticos e instituições da sociedade civil, o filho do mandatário, o deputado
federal Eduardo Bolsonaro, surgiu com uma nova
afronta à democracia brasileira.
Desta vez, o chamado 03 propôs a reedição de algo como o
infame Ato Institucional nº 5, de 1968, marco do período mais duro da ditadura
militar, para casos em que a esquerda brasileira “radicalizar” e promover
manifestações pelo país.
Em entrevista publicada na internet, Eduardo Bolsonaro disse
que a medida seria “a resposta” para uma eventual —e que hoje parece delirante—
onda de protestos que ameaçasse o governo de seu pai.
Não foi a primeira vez que um membro da família Bolsonaro,
incluindo o próprio presidente, teve rompantes autoritários. Desta vez, porém,
ao evocar um decreto radical do passado que deixou um saldo de cassações e
direitos políticos suspensos, o deputado provocou inédita reação no Congresso.
Enquanto o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo
Maia (DEM-RJ), qualificou as manifestações de Eduardo como “repugnantes”, o
presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), disse que o episódio é uma
“inadmissível afronta à Constituição”.
Na mesma hora em que essas lideranças reagiam, no entanto,
Eduardo voltou à carga e insistiu na exaltação à ditadura militar publicando um
vídeo em rede social em que seu pai elogia o coronel Carlos Alberto Brilhante
Ustra, um dos símbolos da repressão.
Eduardo Bolsonaro não é só filho do presidente da República.
Ele é deputado federal, líder do governo na Câmara e presidente da Comissão de
Relações Exteriores e de Defesa Nacional —e até uma semana atrás almejava
ser embaixador
do Brasil nos EUA.
Como defendeu ontem Rodrigo Maia, é imperioso que o deputado
Eduardo seja agora alvo de punição por sua “apologia reiterada a instrumentos
da ditadura” —nas palavras do próprio presidente da Câmara dos Deputados.
Nesse sentido, foi inútil tanto a reação subsequente do
presidente ao dizer que não apoia a fala do filho como o próprio recuo de
Eduardo. O deputado deveria ser, mesmo assim, levado ao Conselho de Ética da
Câmara para responder pelas suas declarações.
O outro aspecto extraordinário desse lamentável episódio é
como já virou padrão no clã Bolsonaro produzir fatos ruidosos como esse a cada
vez que investigações envolvendo a família ganham relevo na polícia e no
noticiário. Repetido à exaustão, o truque barato só chama cada vez mais a
atenção.


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