O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, como de hábito
tenta isentar o governo Jair Bolsonaro de responsabilidade pelo aumento
de 29,5% na área de floresta amazônica que sofreu corte raso entre
agosto de 2018 e julho de 2019. Esforço fútil e inútil.
Verdade que o desmatamento não começou a recrudescer apenas
sob Bolsonaro. Desde 2013 observa-se tendência de alta, que se deve atribuir,
portanto, a Dilma Rousseff (PT) e a Michel Temer (MDB).
Não resta dúvida, porém, de que a política de Bolsonaro, ou
a falta dela, contribuíram e muito para “potencializar” (como disse o próprio
presidente) esse processo nefasto.
No período 2018-19, sofreram derrubada 9.762 km² (cerca de
seis vezes a área da cidade de São Paulo)de floresta. Nos 12 meses anteriores,
haviam sido 7.536 km², diferença que corresponde à taxa de 29,5% de aumento —a
maior em 11 anos.
Só sete meses desse calendário da destruição coincidem com o
atual governo, de fato. Durante os três meses da campanha eleitoral, quando o
futuro presidente não economizou discursos em desfavor da Amazônia, a alta
do desmate foi ainda maior, ao ritmo de 49%.
Segundo dados preliminares do Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais), de janeiro a outubro de 2019 caíram 8.300 km² de mata
amazônica, 70% mais que no mesmo período do ano anterior. Nessa toada, a taxa
anual de 2019-20 poderá ultrapassar 12 mil km².
Já no Planalto, Bolsonaro não se limitou a ataques retóricos
contra a proteção da Amazônia. Enquanto vociferava em defesa da soberania sobre
a maior floresta tropical do mundo, aprofundava a destruição —incentivando
garimpeiros, esvaziando o Ibama, intervindo no Inpe, menosprezando queimadas.
Acima de tudo está o fato de que Salles até hoje não apresentou
política ou programa consequente para enfrentar a situação dramática. Sua
medida mais proeminente foi inviabilizar o Fundo Amazônia, subtraindo doações
internacionais que financiavam projetos de alternativa à destruição.
Os ventos que Bolsonaro e Salles semearam resultam agora na
colheita de tempestade dupla. Primeiro, o país não logrará cumprir metas de
redução do desmate assumidas no Acordo de Paris, deixando de dar sua
contribuição para mitigar a crise do clima planetário.
Pior, surgem sinais de que o rastilho de ressecamento da
Amazônia já se acendeu na sua porção sudeste, não por acaso a que abriga o
chamado Arco do Desflorestamento. A prosseguir o fenômeno batizado como
“savanização”, agronegócio e hidrelétricas sofrerão perdas com a redução de
chuvas.
Sim, a Amazônia é nossa —mas não deveria ser para devastar
como se não houvesse amanhã.
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