Prefeito morre e é o primeiro a ser enterrado em nova
área de cemitério construída na gestão dele
O corpo do prefeito de Bonito de Minas, município do
interior de MG, foi o primeiro a ser enterrado na nova área do cemitério
municipal, obra da gestão dele. O caso lembrou a história da novela "O
Bem-Amado", de Dias Gomes, exibida pela TV Globo em 1973.
José Pedro Pires da Rocha (PSB), o Zé Galego, tinha 64 anos
e morreu na sexta-feira (17) após sofrer um infarto durante uma viagem de
Brasília para Bonito de Minas. Ele havia ido à capital para assinar documentos
para doação de máquinas ao município, que tem cerca de 11 mil habitantes. O
sepultamento aconteceu no domingo (19).
Em "O Bem-Amado", o prefeito da fictícia cidade de
Sucupira, o corrupto Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), é eleito com a
promessa de campanha "Vote em um homem sério e ganhe um cemitério".
No entanto, Odorico enfrenta dificuldades para inaugurar a
obra, já que ninguém morre na cidade, razão pela qual o político passa a criar
uma série de situações que resulte na morte de alguém. No fim, quem acaba
morrendo é o próprio prefeito, que consegue assim "inaugurar" o
cemitério.
Antes mesmo da morte de Zé Galego, moradores de Bonito de
Minas chegaram a mencionar coincidência.
O vereador esclarece que a obra de ampliação era uma
reivindicação da população e dos vereadores, já que a parte antiga do cemitério
tem mais de 50 anos e não comportava mais túmulos.
"Tivemos vários transtornos, moradores foram enterrar
seus entes e havia outras ossadas no lugar. O Zé não era natural daqui e a
família não tinha um espaço na parte do cemitério que já existia, por isso,
pediram que fosse enterrado na parte nova", diz Miqueias.
A obra de ampliação do cemitério começou por volta de
outubro de 2019 e ainda não tem data para terminar. A Prefeitura precisa
construir uma capela e fazer adequações à infraestrutura, como instalação de
banheiros e interligação à rede de água e esgoto.
Miqueias lembra também como ocorreu a morte de Zé Galego:
"Ele viajava sozinho de carro e passou mal. Foi até um
hospital, onde permaneceu em observação, mas acabou liberado. Em seguida,
voltou ao hotel para buscar as malas e continuar a viagem. Passou mal
novamente, foi em outra unidade de saúde, infartou e morreu".
O vereador diz que ele próprio tinha sido convidado por Zé
Galego para acompanhá-lo na viagem, mas não pôde ir por razão de compromissos.
De caminhoneiro a prefeito
Ao contrário de Odorico Paraguaçu, político corrupto e cheio
de artimanhas, Zé Galego era um "homem correto e honesto", afirma o
vereador Miqueias Figueiredo.
Ele conta que o amigo era natural de Sete Lagoas e chegou ao
Norte de Minas Gerais para trabalhar transportando carvão. Tempos depois,
tornou-se como taxista na Comunidade de São Sebastião do Catulé. Na época,
seguindo conselhos dos passageiros que levava, candidatou-se a vereador, mas
não se elegeu.
Nas eleições seguintes, tentou novamente e foi eleito
vereador, primeiro cargo político que ocupou. Em 2012, elegeu-se vice-prefeito
e voltou a ocupar o cargo após o pleito seguinte.
Zé Galego assumiu a Prefeitura de Bonito de Minas depois que
o então ocupante do cargo, José Reis (PHS), afastar-se ao ser eleito deputado
estadual, em 2018.
"Eu já fui oposição, mas conheci o trabalho dele e
passei a apoiá-lo. Foi um prefeito que conseguiu contornar as dificuldades
financeiras do município para pagar salários e outras despesas em dia",
diz Miqueias, sobre o amigo.
"De tanto cuidar dos interesses da população, acabou
esquecendo dele e, infelizmente, morreu em virtude de um problema de
saúde."
Um dos filhos de Zé Galego disse ao vereador que o pai tinha
passado mal há dois anos e um médico apontou, na época, que ele tinha uma veia
com sinais de entupimento.
Novo prefeito
Com a morte de Zé Galego, quem assume a Prefeitura é Dilson
Santana (PP), que era presidente da Câmara. Ele já apoiou a administração
anterior, mas, após divergências, passou à oposição.
"No fim do ano, eu estive com o Zé e expliquei o porquê
de estar no lado contrário, e ele ouviu meus motivos. Éramos opositores, mas de
forma respeitosa. A morte dele surpreendeu a todos e causou muita comoção”,
afirmou Santana, que diz estar fazendo um levantamento para dar sequência aos
trabalhos no município.
Ele afirma que o novo desafio se impôs no momento em que não
pensava tentar se reeleger.
"Fui vereador por duas vezes, quando você se candidata
a um cargo, assume os desafios e tem que estar preparado para tudo. Mas
confesso que não pensava em tentar a reeleição, desanimei com a política, ao
perceber que muitos pensam em tirar proveito próprio e não colocam a população
em primeiro lugar."
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