PM negra que chefia ronda Maria da Penha é aposta do PT à
Prefeitura de Salvador
Mulher, negra e major da Polícia Militar da Bahia. Este é o
perfil da candidata que o PT deve lançar para disputar em outubro deste ano a
Prefeitura de Salvador, capital que é o terceiro
maior colégio eleitoral do país.
A escolhida para a disputa é a major Denice Santiago, 48,
comandante da Ronda Maria da Penha da Polícia Militar baiana. Ela deve ser
apresentada como pré-candidata neste domingo (2), durante a Festa de Iemanjá,
com o apoio do governador
Rui Costa (PT).
A escolha referenda a estratégia
petista de se aproximar de setores da sociedade nos quais o
partido perdeu espaço para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), caso dos
evangélicos, militares e policiais.
Também atende a um pleito do movimento negro que ganhou
força nos últimos meses: lançar um candidato negro para a disputa da
prefeitura. A capital baiana possui cerca de 80% da população formada por
negros e pardos, segundo o IBGE. Ainda assim, a cidade nunca elegeu um prefeito
negro.
Segunda mulher a alcançar a patente de major na Polícia Militar
da Bahia, Denice Santiago ganhou notoriedade nos últimos quatro anos, período
em que comanda a Ronda Maria da Penha. Com 108 policiais, a equipe se
dedica a cuidar da segurança de mulheres sob medida protetiva.
Com forte presença midiática, costuma dar entrevistas na
televisão, participar de debates e já ganhou prêmios por sua atuação na Ronda
Maria da Penha. Tem formação em psicologia e mestrado em administração pela
UFBA (Universidade Federal da Bahia). Sua dissertação teve como tema a
discriminação racial na atividade policial na Bahia.
Em entrevistas, costumas dar declarações não muito usuais
entre policiais militares, como a defesa do feminismo e a necessidade de
combater o racismo dentro da própria corporação.
Denice Santiago nunca disputou eleições e não tem filiação
partidária, mas foi convencida pelo governador Rui Costa a se filiar ao
PT. A tendência é que ela polarize a disputa com o vice-prefeito Bruno Reis
(DEM), escolhido como pré-candidato do grupo do prefeito ACM Neto (DEM).
A escolha de um nome de fora do PT gerou insatisfações em
parte da militância petista. O partido já tem quatro pré-candidatos à
prefeitura: o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira, a socióloga Vilma Reis, a
secretária estadual Fabya Reis e o deputado estadual Robinson Almeida.
Em carta enviada à executiva municipal do PT, o
ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli elogiou Major Denice, mas
afirmou que ela “não tem tradição de luta nos movimentos sociais, não tem
militância partidária e será uma expressão da corporação da Polícia Militar”,
caso seja candidata.
O ex-ministro Juca Ferreira defendeu que o candidato do PT
seja um nome já filiado ao partido e destacou que o candidato à prefeitura deve
ser “uma pessoa que tenha experiência de vida na política”.
Mesmo com as críticas, a Folha apurou que o
governador Rui Costa tem força interna para formar maioria na executiva
municipal e conseguir assim a escolha de major Denice como candidata à
prefeita.
MULHERES NO NORDESTE
Além de Salvador, o PT pode lançar candidatas mulheres a
prefeituras de pelo menos outras quatro capitais de estados do Nordeste.
No Recife, o ex-presidente Lula tem incentivado publicamente
a candidatura da deputada federal Marília Arraes, 35. Filiada ao PT desde 2016,
ela é neta do ex-governador Miguel Arraes (1916-2005) e pode enfrentar nas
urnas o deputado federal João Campos, filho do seu primo Eduardo Campos
(1965-2014).
Marília chegou a tentar disputar o governo de Pernambuco em
2018, mas foi preterida após um acordo nacional entre PT e PSB. Para este ano,
contudo, a tendência é que a aliança não se repita no âmbito municipal.
Prefeita de Fortaleza de 2005 a 2012, a deputada
federal Luizianne Lins (PT), 51, deve disputar novamente o cargo na eleição deste
ano.
Assim como no Recife, a tendência é de um racha no campo da
esquerda. Prefeito da capital cearense desde 2013, Roberto Cláudio (PDT) vai
tentar fazer o seu sucessor –o candidato ainda não foi escolhido.
Em Natal, o nome mais forte do partido para disputar a
prefeitura é o da deputada federal Natalia Bonavides, 31. Caso aceite a missão,
enfrentará o prefeito Álvaro Dias (MDB), que vai disputar a reeleição.
Já em Aracaju, o partido pode lançar a candidatura da
vice-governadora de Sergipe, Eliane Aquino, 48, viúva do ex-governador Marcelo
Déda. Na capital sergipana, o PT rompeu com o prefeito Edvaldo Nogueira após
ele trocar o PC do B pelo PDT e aproximar-se de partidos como o DEM.
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