Chineses e americanos concordam em poucas coisas. Uma delas
é a quantidade de calor que vem se acumulando nos oceanos. Foram publicadas
medidas feitas por americanos e chineses em 2019 e elas são idênticas. Em 2019,
a quantidade de calor acumulada nos oceanos bateu o recorde, foi a
maior desde 1950. Aliás, nos últimos cinco anos, a cada ano esse valor bate o
recorde histórico e, nos últimos 20, a cada ano esse valor aumenta.
Esse dado, obtido usando milhares de termômetros espalhados
por todos os oceanos, é a mais sólida evidência experimental de que a Terra
está aquecendo. Quando pensamos em aquecimento
global o que vem à mente é o aumento da temperatura do ar, mas na
verdade 90% do superávit de calor acumulado no planeta é absorvido pelos
oceanos.
Para entender o balanço energético do planeta basta imaginar
uma panela fechada, cheia até a metade com água, colocada em cima de um
fogareiro, no local mais frio da Antártida.
Se o fogareiro estiver apagado, a panela esfria e a água congela. É isso o que
aconteceria com o planeta (a panela) se o Sol (o
fogareiro) não existisse. Por outro lado, se o fogareiro estiver com a chama no
máximo, apesar de a panela perder calor continuamente para o ar gélido da
Antártida, ela esquenta e mantém uma temperatura alta. É o que acontece nos
planetas muito próximos ao Sol, como Vênus.
A vida só existe na Terra porque a quantidade de calor que
recebemos diariamente do Sol (nosso fogareiro) e a quantidade de calor que a
panela Terra perde para seu entorno são aproximadamente iguais. Por isso, a
temperatura da água na panela (os oceanos) e do ar na panela (a atmosfera)
permanecem dentro da faixa em que a vida pode existir. Como nos últimos bilhões
de anos nosso fogareiro solar tem enviado quantidades constantes de calor em
nossa direção, e a Terra perde para o espaço essa mesma quantidade de calor,
tudo o que entra é perdido para o espaço sideral. E por isso a Terra permanece
com aproximadamente a mesma temperatura. É como uma conta bancária em que os
depósitos equivalem aos saques e o saldo não muda.
O que vem acontecendo nos últimos 150 anos é que a queima de
combustíveis fósseis liberou na atmosfera os chamados gases de efeito estufa.
Esses gases (o principal é o CO2) dificultam a saída do calor recebido pela
Terra do seu fogareiro. É como se colocássemos sobre nossa panela um cobertor
que dificultasse a saída do calor, mas não impedisse sua entrada. Nessas
condições, o saldo da conta corrente começa a aumentar. E a Terra esquenta. É o
tal aquecimento global.
O que os cientistas medem todo ano é a quantidade de calor
que se acumula tanto no ar quanto nos oceanos, ou seja, quanto o saldo dessa
hipotética conta aumenta a cada ano. E o que eles descobriram é que esse saldo
aumenta cada vez mais rápido (se calor fosse dinheiro estaríamos felizes). O
gráfico mostra quanto calor se acumulou nessa conta corrente a cada ano, ou
seja, quanto ficou depositado (ou retido) nos oceanos. O eixo vertical é a
medida em zeta joules (ZJ) por ano e o eixo horizontal é o ano da medida. A
linha horizontal é a média entre os anos de 1981 e 2010.
Em 2019, a quantidade de calor acumulada nos oceanos
aumentou 228 ZJ. Um ZJ são 102²¹ joules (o número dez seguido por 20 zeros). O
joule é uma medida de calor como a caloria (aquela dos rótulos de alimentos). É
uma quantidade absurda de calor.
Faça a conta: aproximadamente 4,2 joules equivalem a uma
caloria e uma caloria é a quantidade de calor necessária para aquecer um
mililitro de água em 1°C. Ou seja, no ano de 2019 os oceanos acumularam
54.000.000.000.000.000.000.000 calorias (ou 54 ZCal). Não é por acaso que a
temperatura dos oceanos está aumentando. E, pior, o aumento está ocorrendo cada
vez mais rápido.
Com o aumento da temperatura dos oceanos, a quantidade de
oxigênio que pode ser dissolvida na água diminui e a evaporação aumenta. A
queda dos níveis de oxigênio prejudica os seres vivos nos oceanos e a maior
evaporação é uma das causas do aumento de tempestades, secas e furacões. Além
disso, o aumento da temperatura provoca o degelo e o aumento do nível dos
oceanos.
Essa série de medidas experimentais (não são modelos
matemáticos, mas medidas diretas) são a prova cabal de que o aquecimento global
é real. Sabemos que ele existe, sabemos as causas, mas seremos capazes de mudar
a maneira como vivemos? Tenho minhas dúvidas.
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