Em mais uma demonstração da inépcia que vem assolando o
Ministério da Educação, o responsável pela pasta, Abraham Weintraub, admitiu no
sábado (18) a
existência de erros nas notas do Enem realizado no ano passado.
O problema, de acordo com o MEC, deveu-se a uma falha da
gráfica que passou a imprimir a prova em 2019, após a falência da empresa que
fazia o serviço anteriormente.
Verificou-se uma inconsistência entre a identificação de
alguns candidatos e a respectiva cor dos exames realizados por eles (cada cor
traz uma ordem diferente das mesmas questões). Em razão disso, o sistema
corrigiu testes de uma versão como se fossem de outra.
A princípio, o ministério afirmou que os problemas estariam
restritos à prova de matemática e ciências da natureza, feita no segundo dia do
Enem. Depois, confirmou a existência de falhas também no teste do primeiro dia.
A pasta estimou inicialmente que os erros poderiam ter
afetado até 1% dos participantes, ou cerca de 39 mil alunos. Depois, baixou a
estimativa para cerca de 6.000.
Embora tenha divulgado dimensões diferentes do problema, o
MEC manteve o início do calendário do Sisu, sistema que seleciona alunos para
as universidades públicas pela nota do Enem —as inscrições começam nesta terça
(21) e foram estendidas por dois dias, até domingo (26).
Mais prudente talvez fosse dirimir completamente todas as
dúvidas antes de dar prosseguimento às etapas seguintes do processo.
Mas seja qual for o universo de estudantes prejudicados, o
estrago está feito. As inconsistências encontradas na correção não só abalam a
imagem e a credibilidade do exame, hoje o principal meio de ingresso nas
instituições federais do país, como dão margem a toda sorte de questionamentos,
como a contestação das notas da redação, que não teriam sido afetadas.
Vista em perspectiva, a balbúrdia no Enem constitui apenas o
problema mais recente de um ministério
cujo desempenho até agora foi pífio, e que passou o último ano consumido
por cruzadas ideológicas, trocas sucessivas em cargos de comando e paralisia
institucional.
Não à toa, foi o fato de não ter conseguido elaborar um
projeto que impediu o MEC de utilizar, em 2019, o dinheiro resgatado da Lava
Jato que lhe foi repassado, ao contrário de outras seis pastas também
contempladas, conforme revelou reportagem desta Folha.
Em vez de explicar a inação ministerial, Weintraub preferiu
atacar este jornal e um dos repórteres que assinaram o texto.
O risco agora é que tamanho despreparo venha a macular
também um avanço bem-sucedido na área educacional como o Enem.
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