Estados Unidos e China firmaram na semana passada uma
trégua na guerra econômica que travam desde 2018. A suspensão das
hostilidades, porém, parece frágil, não encaminha a solução de conflitos
fundamentais e é incapaz de alterar o novo rumo do comércio mundial.
Decerto a redução das tensões pode representar um alívio. Os
solavancos financeiros e a incerteza provocadas pela guerra fria de Trump
reduziram o crescimento
do planeta em 2019.
O presidente americano pode cantar vitória ao menos diante
do seu público enquanto sofre um processo
de impeachment e inicia sua campanha eleitoral. No curto prazo, o
encarecimento dos produtos importados e a redução do comércio, resultado do
aumento dos impostos sobre produtos da China, não tiveram efeito notável no
crescimento americano.
A disputa de Trump com a China deve ter alguns efeitos
deletérios duradouros. Junto de outras ofensivas protecionistas, desmoraliza as
instituições desenvolvidas para incrementar o comércio mundial.
As importações da China devem ter caído quase 20% em 2019,
mas outro tanto passou a ser comprado de países do sudeste asiático. Firmas
americanas desistem de operações chinesas e se mudam para a vizinhança. Os
empregos prometidos por Trump não voltam para os EUA.
O gigante asiático já não depende tanto do seu grande
cliente. A importações americanas são apenas 4% do seu PIB. Com ainda mais
ênfase, procura novos parceiros.
Em si, o acordo prevê que a China passe a comprar US$ 200
bilhões de produtos americanos em 2021 (importações ora em torno de US$ 122
bilhões), mas é incerto o atingimento de tal meta irrealista. Mesmo com a
trégua, os americanos ainda tributam de modo extraordinário quase três quartos
de suas importações chinesas.
Os chineses ainda se comprometeram a evitar a transferência
forçada de tecnologia que exigia dos que se estabelecessem em seu país;
prometem mais proteção a patentes e abertura financeira.
O acordo, além de burocratizar e estatizar o comércio, pode
ser facilmente denunciado pelos parceiros; não toca, além do mais, nos
subsídios e outras intervenções que promovem a indústria chinesa. A tensão deve
continuar por outras vias, pois os americanos estão alarmados com o avanço
tecnológico e militar da China.
Em suma, a chamada “fase um” do acordo é uma trégua
relevante no curtíssimo prazo. Os termos do entendimento, porém, são precários.
Quanto ao médio prazo, o comércio e as cadeias mundiais de suprimentos começam
a tomar novos caminhos, que o compromisso da semana passada não vai alterar.
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