A máquina pública é formada por tal engrenagem complexa e
impermeável a solavancos que, digamos, mesmo que amanhã assuma a cadeira
presidencial o Marinheiro Popeye, o país continuará a sua marcha. Ocorre que
tudo tem limite.
Lentamente, a incompetência patente, a total falta de ideia
sobre o que fazer, o brancaleonismo piorado pela prepotência, o pelotão da
ignorância travestido de exército da salvação, enfim, tudo isso, misturado,
haveria de cobrar a devida fatura.
Jair Bolsonaro, que gosta de dar voltinhas em Brasília para
comer pastéis, visitar feiras, bem que poderia aproveitar algum desses momentos
em que não tem, ou não sabe, o que fazer —e eles parecem ser muitos— e dar um
pulinho nas agências do INSS. Lá não vendem pastéis, mas foi em uma delas que o
repórter Bernardo Caram encontrou o trabalhador rural Paulo Novais de Jesus,
que disse aguardar há três meses a liberação de um auxílio-doença. Devido a
isso, tem feito incursões na mendicância. “Tive que perder a vergonha de pedir
comida para a família.” Ao todo, 1,3 milhão de brasileiros estão em situação
similar, no rol de vítimas de apagões que pipocam aqui e ali na máquina pública
que Paulo Guedes quer pôr abaixo para o bem geral da nação.
Além de ouvir a história dessa gente, Bolsonaro poderia
aproveitar a oportunidade e explicar a eles o que não deu certo na sua promessa
de só levar os melhores, os mais competentes, para a sua equipe. Guedes poderia
ajudá-lo a responder essa.
Além do cenário de deus-dará no INSS, os melhores estão à
frente da balbúrdia que inferniza estudantes e sucateia a educação, órgãos do
meio ambiente e o programa de casas populares, que retoma as filas e diminui a
cobertura do Bolsa Família, que gera panes técnicas as mais variadas e que
troca políticas públicas baseadas em fatos e ciência por bênçãos do caderno da
tia-avó.
Por mais resiliente que seja esse trambolho chamado máquina
pública, não há Titanic que suporte por muito tempo tanta competência.
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