Por ora, risco maior é o Viabra, vírus da incompetência
aguda brasileira
O coronavírus pode diminuir de um quinto a um terço do
crescimento da China neste trimestre, a gente lê por aí em relatórios
financeiros e em textos de consultorias. É uma diferença brutal de estimativa
(rir, rir, rir), ainda mais para um PIB grande como o chinês, equivalente a um
sexto da economia mundial.
A tolice não para por aí, embora a doença seja séria e possa
matar milhares de pessoas. Por ora, no entanto, a gente corre mais risco com o
Viabra (“Vírus da Incompetência Aguda Brasileira”), que infecta evidentemente o
INSS ou a Educação, para ficar só em dois exemplos, mas pode infectar até a
medula da política econômica.
A gente não tem informação confiável nem sobre a doença, que
dirá de seus efeitos na economia da China ou do mundo. Não se sabe bem o número
de casos chineses, com o que não se conhece a velocidade de expansão da
infecção nem quão letal é.
Cientistas de Hong Kong criticam os números da China (pode
haver mais infecções). Há dúvidas sobre qualquer contagem porque, afora a
confusão que esses surtos provocam, duvida-se que ora existam profissionais e
testes em quantidade suficiente para fazer exames.
O coronavírus vai ter efeito pior do que seu primo que
causava a Sars (síndrome respiratória aguda grave), epidemia de 2002-2003? Pelo
que se tem registro, a Sars matou cerca de 800 pessoas e infectou umas 8 mil,
de novembro de 2002 a julho de 2003. Uns estudos do efeito econômico da doença
dizem que a epidemia tirou cerca de um décimo do crescimento do PIB chinês, que
corria então ao ritmo de 10% ao ano. Além de Hong Kong e Singapura, no restante
do mundo, o efeito foi na prática irrelevante, afora para os mortos, suas
famílias e seus amigos.
Isto posto, o vírus parece bastante agressivo, escreve gente
que estuda o assunto, em revistas científicas. Um baque significativo na economia
chinesa pode ter efeitos diretos no Brasil (preços de minério e petróleo) e
indiretos. Até a semana passada, o FMI e bancões pareciam animadinhos com
alguma retomada da economia mundial. Para o FMI, o crescimento global passaria
dos 2,9% estimados para 2019 para 3,3% neste 2020. Se houver desgraça maior na
China, não vai rolar.
Enquanto seu vírus não vem, o nosso principal problema somos
nós mesmos e o Viabra, o vírus da incompetência. Além de gente desclassificada,
há gente desqualificada em postos-chave do governo.
Desgraçar a vida de gente na fila do INSS ou infernizar
vestibulandos do Enem, no curto prazo nem causa danos econômicos, pode-se
congratular barbaramente o governo. Mas o Viabra está espalhado pela
administração federal, um risco enorme para a economia, doente grave que
convalesce devagar. Nesse ano, seria preciso haver outra rodada de redução
duradoura de gasto, um programa de obras na rua e algum conserto tributário,
pelo menos. Se nem ao menos o pacotão rudimentar e antissocial de ajuste
econômico for adiante, o caldo azeda.
Exagero? Note como o Ministério da Economia diz “a” e Jair
Bolsonaro diz “não a” ou “b” sobre tantos assuntos. O governo cria crises
políticas do puro ar, do nada. A maioria delas tem sido espuma tóxica, daninha,
mas que se dissipa.
E quando não for? Esperar que Rodrigo Maia governe o grosso
da economia com uns economistas de Bolsonaro e controle suas atrocidades
maiores pode até ser uma expectativa razoável, mas o mero fato de que as coisas
tenham funcionado assim, e olhe lá, não diz boa coisa sobre o nosso arranjo.
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