As relações do presidente Bolsonaro com seu ministro da
Justiça, Sergio Moro, estão estragadas, e não há sinal de que eles voltem a se
encantar. Estão afastados pelos projetos e sobretudo pelos temperamentos. O que
acontecerá se eles se separarem?
Marco Maciel, o sábio vice-presidente de Fernando Henrique
Cardoso, já respondeu a esse tipo de questão. Pode acontecer isso ou aquilo,
mas sobretudo pode não acontecer nada.
A ideia de que, como ministro do Supremo ou mesmo como
candidato, o xerife da Lava-Jato sofreria as inclemências do sol e do sereno
pode parecer estranha, mas, olhando-se para o outro lado, nenhum presidente
pagou caro pela dispensa de um ministro indemissível. Pelo contrário, a conta
ficou cara para o presidente que não usou a caneta.
Guardadas todas as diferenças, passaram por Brasília três
ministros indispensáveis. O último foi Dilson Funaro, o herói do Plano Cruzado
de José Sarney. Sua gestão começava a dar sinais de cansaço e ainda era o
ministro mais popular do governo, quando um conhecedor do Planalto informou que
ele seria docemente asfixiado. Funaro saiu e virou asterisco.
Indispensável mesmo era o general Golbery do Couto e Silva,
chefe da Casa Civil do presidente João Figueiredo, que lhe devia a arquitetura
da própria nomeação. Em 1981, na crise do atentado do Riocentro, o presidente
alinhou-se com a “tigrada”, e Golbery foi-se embora. Pensava-se que seria
impossível substituí-lo. Esmeralda, a mulher do general, que lhe atribuía
poderes paranormais, cravou: Ele vai chamar o professor Leitão de Abreu. Não
deu outra, e o ex-chefe da Casa Civil do governo Médici manteve o barco à tona.
Golbery afundou com a candidatura de Paulo Maluf à Presidência.
Funaro e Golbery foram asfixiados e pediram demissão, já o
general Sylvio Frota, ministro do Exército do presidente Ernesto Geisel, foi
mandado embora. Frota tinha o peso do cargo, invicto em todos os confrontos com
a Presidência. O general supunha-se presidente de um conselho de administração
(o Alto Comando do Exército), capaz de emparedar o CEO (Geisel). Quem sabe uma
parte dessa história é o ministro Augusto Heleno, ajudante de ordens de Frota.
Na tensa jornada de 12 de outubro de 1977, a pedido do chefe, o capitão Heleno
fez uma ligação para o general Fernando Bethlem, comandante da tropa do Sul, em
quem Frota via um aliado. Se os dois conversaram, é quase certo que Bethlem já
soubesse que era seu sucessor. No dia seguinte, Frota estava em seu apartamento
do Grajaú.
Nesses três casos, os indispensáveis foram dispensados.
Houve outro, no qual o presidente medrou. Em 1965, Castello Branco manteve o
general Costa e Silva no Ministério da Guerra, apesar de ele ter estimulado o
lançamento de sua candidatura à Presidência da República. Castello cedeu, para
contrariedade de seus mais diretos colaboradores. Quando se deu conta de que
Costa e Silva levava o país para uma ditadura escancarada, preparou-se para
desafiá-lo, mas foi ao Ceará, embarcou num aviãozinho, caiu e morreu.
Os ministros são indispensáveis até a hora em que são
dispensados. Afinal, como também ensina Marco Maciel, as consequências
geralmente vêm depois.
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