Deu. Apesar de já há algum tempo estarmos envolvidos em
reflexões a respeito de representações patronais e termos pactuado certo
silêncio, temos novamente que mostrar nossa indignação com o que ocorre em São
Paulo. Seremos atacados por amigos do rei, mas a reputação é algo que se presta
a ser colocada a serviço de convicções.
Temos defendido ao longo da vida os valores republicanos,
democráticos e civilizatórios. Não acreditamos em sociedade bem-sucedida que se
ancora em duas ou três variáveis e estamos longe de concordar que a economia,
sozinha, traga a paz. Ao contrário, embora assim pensem colegas amantes do
reducionismo e de ideologias que não respeitam as instituições.
A indústria está perdendo
espaço por razões que conhecemos. Parte sua responsabilidade, parte
devido às transformações tecnológicas globais, parte por novos modelos de
negócios. No Brasil, um desperdício de talentos e oportunidades, fruto de
políticas erradas e falta de coragem na adoção de uma agenda de integração
global —que nos colocou distantes da busca prioritária da produtividade. A isso
se soma o recorrente desprezo com a pesquisa e com a inovação, e um descaso
histórico com a educação, a cultura e a sustentabilidade.
Este país cada vez mais demonstra o custo de uma
surpreendente escassez de lideranças. Liderança que tenha a ver não com carisma,
mas com responsabilidades, com olhar ao longe, com defesas técnicas, generosas
e patrióticas sem desconsiderar um mundo global.
Temos nos perguntado onde estão os colegas
industriais. E se por ventura estão no núcleo ou na órbita desta Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) dos últimos anos. Como não
agem para que ela readquira seu papel de relevância e compromisso, respeite sua
origem e sua carta de princípios, seja ouvida com respeito e não escárnio,
aponte caminhos em conjunto com outras representações, muitas das quais também
necessitam de urgente renovação?
O que fazem os presidentes de sindicatos e os bons nomes que
ocupam conselhos da entidade, a com seu silêncio compactuar com o uso político,
partidário mesmo, escolhas duvidosas, culto a personalidades?
O que faz o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São
Paulo), nossa matéria-prima mais legitima, o chão de fábrica da constelação, a
permanecer inerte, passivo, entregue, e pior, subjugado?
Como podem alguns políticos, sabedores do oportunismo das adesões da casa, dar a ela espaço e duvidoso prestígio?
Como podem alguns políticos, sabedores do oportunismo das adesões da casa, dar a ela espaço e duvidoso prestígio?
A Fiesp está em acelerado processo de destruição. Uma marca
forte, um passado com falhas que deveriam ensinar, mas com um papel
majoritariamente construtivo ao nosso diverso parque industrial, uma pauta
honrada, uma necessária voz nestes tempos de dúvidas, agora centrada na sua
insignificância, num processo de autoengano que se repete ano após ano.
As entidades do Sistema S, que tanto fizeram e ainda podem
fazer pelo país, são prejudicadas pela ausência de uma governança legitima, que
as tornem mais eficazes, autônomas e libertas de interesses marginais. Não é
por nada que o Sistema S está sub judice...
A natureza e a política não gostam de vazios de poder. Para
nosso setor de atividades as representações têm procurado reacomodações, mas as
críticas agigantam-se e a verdade sempre chega.
A indústria paulista vai perder a Fiesp/Ciesp, assim como
todo o investimento nela feito e o instrumento de liderança que poderia ser. Se
aqueles que a frequentam estão dispostos a conviver com tal constrangimento e a
pecha de protagonistas desse triste ocaso, que o façam, mas sem mais desculpas
ou subterfúgios. Dos outros, a sociedade espera ação e distância da avenida
Paulista enquanto nada mudar.
De nossa parte apenas a solidariedade com um corpo funcional
de grande qualidade e o compromisso já manifesto várias vezes de que qualquer
dos ora articulistas jamais terá a pretensão de àquela cadeira se sentar.
Estaremos sim disponíveis para apoiar novos caminhos para a reforma da
desgastada governança e a consequente mudança no sistema de representação da
indústria paulista.
Empresas bem estruturadas continuarão sua marcha bem-sucedida
e independente, mas, estamos certos, lamentarão, senão a falta de interlocução,
o fraquejar de sua cadeia de fornecedores e subfornecedores nacionais, e seu
espaço de coparticipação com outros pares da indústria.
Uma pena. Morte anunciada.
Horácio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro Wongtschowski
Membros, respectivamente, dos conselhos de administração da
Klabin, da Natura&Co e da Ultrapar
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