Deputado constituinte em 1946, Jorge
Amado não tinha vida fácil. O Partido Comunista arranjara-lhe um lugar
no meio do nada para morar —um sítio com plantação de laranjas na Baixada
Fluminense— ao qual se chegava por estradas empoeiradas e esburacadas. Um táxi
levava o escritor até Caxias, onde ele pegava o ônibus para a praça Mauá, no
Centro do Rio. De lá, seguia a pé até o Palácio Tiradentes, na avenida Antônio
Carlos.
Um dia Jorge teve a ideia de comprar galinhas para o sítio.
Antes de refazer o caminho, parou num aviário da rua da Assembleia. Quase teve
de pedir algum emprestado. O custo com as corridas de táxi consumia todo seu
dinheiro —quer dizer, os 10% que o PCB lhe deixava do soldo de deputado.
O Palácio
Tiradentes está com seus dias de palco político contados. Com a
transferência da Alerj para o antigo prédio do Banerj, a construção em estilo
eclético deverá abrigar um centro cultural. O fantasma que ali habita desde os
tempos da Cadeia Velha está radiante em não ter mais de dividir o espaço com deputados
corruptos. Só nos últimos anos, dez foram presos.
A reforma do, para os íntimos, Banerjão —um
edifício-mostrengo, que leva o nome de Lúcio Costa, inaugurado nos anos 1960—
custou R$ 156 milhões. O plenário ficará no subsolo. As galerias para o público,
um andar acima. Em compensação, o prédio dá para o Buraco do Lume, local
já acostumado a receber manifestações políticas. A nova Assembleia nasce
convidando aos protestos.
*
Roberto
Alvim kaput. Vem aí, no entanto, a política da ministra Damares em
defesa da castidade, baseada no movimento cristão Eu Escolhi Esperar, o qual
prega que os jovens só devem transar após o casamento. De insaciável apetite
sexual, Goebbels aprovaria a medida —pois ela não ia pegar. Ainda mais às
vésperas do Carnaval.
Alvaro Costa e Silva
Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de
"Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".
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