terça-feira, 21 de janeiro de 2020

JORGE AMADO E AS GALINHAS

Alvaro Costa e Silva, Folha de S.Paulo
Deputado constituinte em 1946, Jorge Amado não tinha vida fácil. O Partido Comunista arranjara-lhe um lugar no meio do nada para morar —um sítio com plantação de laranjas na Baixada Fluminense— ao qual se chegava por estradas empoeiradas e esburacadas. Um táxi levava o escritor até Caxias, onde ele pegava o ônibus para a praça Mauá, no Centro do Rio. De lá, seguia a pé até o Palácio Tiradentes, na avenida Antônio Carlos.
Um dia Jorge teve a ideia de comprar galinhas para o sítio. Antes de refazer o caminho, parou num aviário da rua da Assembleia. Quase teve de pedir algum emprestado. O custo com as corridas de táxi consumia todo seu dinheiro —quer dizer, os 10% que o PCB lhe deixava do soldo de deputado. 
Palácio Tiradentes está com seus dias de palco político contados. Com a transferência da Alerj para o antigo prédio do Banerj, a construção em estilo eclético deverá abrigar um centro cultural. O fantasma que ali habita desde os tempos da Cadeia Velha está radiante em não ter mais de dividir o espaço com deputados corruptos. Só nos últimos anos, dez foram presos. 
A reforma do, para os íntimos, Banerjão —um edifício-mostrengo, que leva o nome de Lúcio Costa, inaugurado nos anos 1960— custou R$ 156 milhões. O plenário ficará no subsolo. As galerias para o público, um andar acima.  Em compensação, o prédio dá para o Buraco do Lume, local já acostumado a receber manifestações políticas. A nova Assembleia nasce convidando aos protestos.
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Roberto Alvim kaput. Vem aí, no entanto, a política da ministra Damares em defesa da castidade, baseada no movimento cristão Eu Escolhi Esperar, o qual prega que os jovens só devem transar após o casamento. De insaciável apetite sexual, ​Goebbels aprovaria a medida —pois ela não ia pegar. Ainda mais às vésperas do Carnaval.
Alvaro Costa e Silva
Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".
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