Você imaginou que em janeiro, com aquele calorzão que deixa
todo mundo meio anestesiado, não iria acontecer nada, e saiu de férias. Quatro
semanas depois, abismado, se deu conta de que perdeu assuntos quentíssimos que
renderiam pelo menos uma dúzia de artigos e colunas. Você se esqueceu de que
com o governo Bolsonaro é bom nunca relaxar. Foi da turma federal que saíram os
casos mais esquisitos de janeiro, mas não se pode ignorar as boas colaborações
de Crivella, Witzel e até de Lula. Vejamos.
CARNAVAL EM JANEIRO — Para começar, o prefeito Marcelo
Crivella antecipou o início do carnaval para janeiro. Mudar o calendário de
Momo foi um oportunismo político em ano eleitoral do bispo que odeia o
carnaval. Além de deixar Copacabana irada, a festança fora de hora acabou em
caos e violência.
ABSTINÊNCIA — A inacreditável Damares Alves recomendou
abstinência de sexo como forma de evitar gravidez precoce. A ministra genial
não conseguiu oferecer contribuição melhor para a educação sexual de jovens.
MUITAS LETRAS — O presidente Bolsonaro reclamou que livros
didáticos no Brasil “têm muita coisa escrita”. Disse que é preciso suavizar.
Pode? Pode. E, pior, anunciou que vai trocar letras por imagens da bandeira do
Brasil. Prato cheio para um artigo.
EX-LULINHA — E o Lula sepultou oficialmente seu alter ego
Lulinha Paz e Amor. Ele rejeitou recomendação do PT para moderar o seu discurso.
O sapo barbudo voltou.
CENSURA — O desembargador Benedicto Abicair censurou filme
do Porta dos Fundos. Mais um aloprado julgando sem o apoio da lei. A censura
foi derrubada por instância superior. Dava ou não pano para manga?
DENÚNCIA VAZIA — O Ministério Público Federal denunciou o
jornalista Glenn Greenwald por cumplicidade com hackeadores de celulares de
Moro e companhia. Pior que isso, só a censura do Benedicto.
ÁGUA PODRE — Quem diria, até a água do Rio apodreceu. Uma
certa geosmina invadiu o imprevidente Guandu e a água da Cedae ficou com gosto
de ovo podre. Como a empresa é estatal, o governador Witzel exonerou um diretor
da empresa. E só. Dias depois descobriu-se que a Cedae também estava despejando
esgoto em lagoas do Rio.
CERVEJA MATA —E teve também a cerveja contaminada por
substância tóxica que matou quatro pessoas em Minas Gerais. Era mesmo só o que
faltava ao verão brasileiro.
MÃO NA BOTIJA —Soube-se que empresa de publicidade que
pertence ao secretário de Comunicação da Presidência recebe dinheiro de
emissoras que têm contratos com o governo. Bolsonaro passou a mão na cabeça do
assessor Fabio Wajngarten: “Se houve crime a gente vê lá na frente”. Pois é, o
presidente que ia acabar com a corrupção deixou esse caso para depois.
O NAZISTA —Descobriu-se um nazista no governo. Não foi
resultado de investigação jornalística que escavou subterrâneos. O próprio
nazista se desvelou ao repetir discurso de Goebbels numa rede social. O
sujeito, cujo nome não merece ser citado, acabou exonerado do cargo de
secretário da Cultura. E abriu vaga para a atriz Regina Duarte.
IMPRECIONANTE —O ministro da Educação, Abraham Weintraub,
cometeu outro erro ortográfico num texto que redigiu em janeiro. O desta vez
foi escrever a palavra impressionante com “c”. Doía só de olhar.
IMPRECIONANTE 2 —Foram os estudantes que descobriram erros
na correção das provas do Enem. Trinta mil alunos foram prejudicados. Weintraub
culpou a gráfica, e Bolsonaro disse que pode ter havido sabotagem. Francamente.
COISA DE POBRE — O ministro Paulo Guedes, que não podia
ficar de fora do festival de besteira de janeiro, disse que “a maior inimiga do
meio ambiente é a pobreza”. Pegou mal e ele ouviu de tudo, só faltou ser
vaiado.
PECADO —Guedes anunciou também plano para criar o que ele
chamou de “imposto do pecado”, cobrando taxas extras sobre tabaco, álcool e
açúcar. Bolsonaro vetou a ideia dizendo que ninguém vai “aumentar imposto da
cerveja”.
ANTIÉTICO — E, finalmente, o governador Witzel divulgou
telefonema com Mourão e foi chamado de antiético pelo vice-presidente.
Constrangimento maior não se viu em janeiro.
É dura a vida do jornalista.
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