Para Jair Bolsonaro, foi um ótimo negócio. O presidente
trocou um auxiliar obscuro, que desgastou o governo ao imitar um nazista, por
uma das atrizes mais populares do país. Para Regina Duarte, talvez não seja.
Ela parece empolgada com o novo papel, mas correrá riscos que nunca enfrentou
nas novelas. Por vontade própria, deixará o mundo encantado das celebridades
para se lançar na arena selvagem da política.
Em poucos dias, a atriz já sofreu dois arranhões em sua
reputação. Primeiro surgiu a pensão de R$ 6,8 mil, bancada pelos cofres
públicos. Ela perdeu o pai militar em 1981, quando já era uma das estrelas mais
bem pagas da TV. No fim de semana, a revista “Veja” revelou que Regina tem
pendências com a Lei Rouanet. Ela recorre para não devolver R$ 319 mil ao
Tesouro.
Enquanto se dizia “noiva” do presidente, Regina escondeu o
jogo. Agora que selou o casamento, terá que dizer o que pensa. Há oito meses,
ela deu algumas pistas. No “Conversa com Bial”, disse que Bolsonaro a
“fascinou” e que sempre foi conservadora. Na mesma entrevista, condenou o ódio
na política: “Não pode xingar, não pode ser agressivo. Todo mundo tem direito a
falar tudo”.
Questionada sobre política cultural, a atriz surpreendeu ao
sacar um discurso escrito. Nele, pediu mais rigor no uso do dinheiro público e
disse que o Estado não deveria financiar artistas famosos. Tudo certo, mas
faltou dizer que ela já teve as próprias contas rejeitadas. No total, sua
produtora captou R$ 1,4 milhão pela Lei Rouanet.
Nos próximos dias, Regina terá que decidir quem sai e quem
fica na equipe de Roberto Alvim. Será seu primeiro teste. Se mantiver os
aloprados em instituições como a Funarte e a Casa de Rui Barbosa, ela passará a
imagem de uma rainha da Inglaterra. Se tiver coragem para demiti-los, arrisca
virar alvo de fogo amigo.
A atriz já topou colar sua imagem a um governo que flerta
com a censura e hostiliza a classe artística. Agora será pressionada a endossar
o sectarismo no poder. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem dito que
Regina é séria, mas carece de experiência política e pode ser “destruída” pela
ala mais radical do bolsonarismo. Apesar dos alertas, ela disse “sim” ao
capitão.
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