Investimento em Defesa é o maior do governo
O investimento em obras e compras de equipamentos do governo
federal aumentou no ano passado.
Por fora, bela viola: foi surpresa grande, pois se esperava
queda feia dessas despesas. Por dentro, pão bolorento: o investimento cresceu
porque o governo aumentou em mais de R$ 10 bilhões o capital de três estatais:
Emgepron, Infraero e Telebras. Em suma, porque os gastos militares cresceram
bem.
A Emgepron é uma estatal da Marinha que, basicamente, faz
navios. Em 2019, o governo colocou R$ 7,6 bilhões na empresa a fim de construir
corvetas (navios de guerra) e um barco para uso na Antártida.
No total, o gasto federal em investimento foi de R$ 57,3
bilhões no ano passado, 2,3% mais do que em 2018, já descontada a inflação.
Desse total, o Ministério da Defesa ficou com 28,7% (R$ 16,5
bilhões, incluídas as “inversões financeiras” do aumento de capital da
Emgepron), um aumento de 36% em relação a 2019. Em segundo lugar ficou o
Ministério do Desenvolvimento Regional (R$ 10,5 bilhões), seguido pela
Infraestrutura (R$ 9,2 bilhões).
Ressalte-se que se trata aqui do gasto em investimento, que
equivale a apenas 3,9% do gasto federal total, que foi de R$ 1,47 trilhão (não
inclui a despesa com juros, que desde 2014 nem é parcialmente paga, apenas
rolada).
Para onde vai o gasto militar? Para a Aeronáutica
desenvolver e comprar aviões de caça Gripen (R$ 1,3 bilhão) e o cargueiro da
Embraer (R$ 805 milhões). Para a Marinha construir submarinos (R$ 918 milhões)
e seus estaleiros (R$ 380 milhões), por exemplo. Para um blindado sobre rodas
do Exército, o Guarani (R$ 410 milhões). Para helicópteros (R$ 344 milhões).
Etc.
O maior pacote de investimento federal é em manutenção de
estradas, R$ 3,6 bilhões (em construção, quase nada). Depois, em programas de
construção e financiamento de casas, como o Minha Casa Minha Vida, R$ 3,4
bilhões.
Os gastos militares são pesados quando se leva em conta que
as três maiores obras individuais do país são a adutora que leva água da
transposição do São Francisco para o interior de Pernambuco (R$ 578 milhões), a
Ferrovia de Integração Oeste-Leste, trecho na Bahia (R$ 361 milhões), e a
transposição do rio São Francisco para Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande
do Norte (R$ 251 milhões).
O valor é o das despesas empenhadas.
O restante em geral é de coisas picadas, que dão volume
quando juntas. Hospitais, clínicas e laboratórios: R$ 1,8 bilhão. Obras em
creches, pré-escola e escolas fundamentais: R$ 1,6 bilhão. Habitação,
saneamento, transporte: R$ 2,8 bilhões. Etc.
O dinheiro para expansão, equipamentos e obras das
universidades federais dá R$ 893 milhões. Para a melhoria de escolas (Programa
Dinheiro Direto na Escola), R$ 529 milhões. Para Unidades Básicas de Saúde, R$
578 milhões. Para comprar ônibus escolares, R$ 493 milhões.
É preciso notar também que quase todos esses projetos
maiores, os militares em particular, vêm de outros governos (PT em especial),
embora Jair Bolsonaro tenha colocado dinheirama extra na estatal da Marinha,
pois entrou o tutu grosso da venda de campos de petróleo (“cessão onerosa”).
Certas despesas são definidas por contratos (caças, por
exemplo). Mas há muitas coisas erradas, neste e noutros governos, quando 28% do
pífio dinheiro do investimento vai para gasto militar.
Para que ter Forças Armadas sem armas? É uma questão. Mas
faltam estrada, esgoto, água, mais energia limpa, cama de hospital, ultrassom,
raios-X.
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