Os apaixonados seguidores do atual
presidente não acreditam que ele seja capaz de nada ruim; já os seus
adversários não acreditam que ele seja capaz de nada bom. Sendo assim, trata-se
de um governo inacreditável. É inacreditável, por exemplo, a caricata peça
exibida por Roberto Alvim, mimetizando Joseph Goebbels, o chefe da
propaganda da Alemanha nazista, assim como inacreditáveis são as desculpas do
secretário e mesmo o fato de o governo ter tido um secretário de Cultura tão
sem noção. Todavia, embora seus adversários não acreditem, o governo Bolsonaro
tem méritos.
Citemos, de início, algumas áreas em que o governo merece
reconhecimento: na econômica, a boa equipe do ministro Paulo Guedes vai
construindo o equilíbrio fiscal e recuperando empregos (recuperação
lenta, mas é melhor caminhar devagar do que afundar ligeiro, como no
governo de Dilma Rousseff); na segurança, o ministro Sergio Moro,
com sua equipe, vai diminuindo significativamente os índices de criminalidade.
Também a ministra Damares
Alves tem realizado um bom trabalho, apesar de ser constantemente
assediada pela imprensa desde o dia da sua nomeação.
Vejamos algumas ações do Ministério da Mulher, da Família e
dos Direitos Humanos, sob a batuta da ministra que se adjetivou como “terrivelmente
cristã” e que iniciou seu mandato em meio a polêmicas por usar a
expressão “menino
veste azul e menina veste rosa”, deixando os pregadores da ideologia de
gênero à beira de um ataque de nervos.
Damares Alves está desenvolvendo um trabalho de proteção a
adolescentes que inclui orientação
para abstinência sexual como forma de prevenir a gravidez precoce, mas
os ideólogos da esquerda entendem que a atividade sexual precoce é uma
conquista dos adolescentes e combatem com muito vigor qualquer orientação que
vá contra a permissividade sexual. A ministra tem atuado para impedir que
crianças indígenas continuem sendo assassinadas pelos pais segundo sua estranha
e cruel tradição, mas os antropólogos multiculturalistas entendem que tais
costumes infanticidas devem ser preservados.
Em campanha, o presidente prometeu acabar com o viés
ideológico, e hoje são muitos os que —até mesmo fora do âmbito da esquerda—
reclamam de ter ele mantido, com sinal trocado, o tal viés. Mas que Bolsonaro
atue por uma determinada linha ideológica é inelutável, porquanto qualquer
governo tem um componente ideológico.
Um exemplo de viés ideológico é o alinhamento do governo
atual com os Estados Unidos, uma democracia liberal, em contraposição ao
alinhamento ideológico dos anteriores governos petistas com ditaduras. É bem
verdade que Bolsonaro já reverenciou ditaduras; porém, o fez em relação a
ditaduras pretéritas, enquanto a esquerda cultua ditaduras pretéritas e
presentes, com especial predileção por Cuba e Venezuela.
O combate à corrupção, porém, deveria estar acima de
qualquer ideologia, mas, como se sabe, a esquerda petista, quando no governo,
institucionalizou a corrupção no Brasil e a alargou além-fronteiras, montando o
que talvez seja o maior esquema de corrupção da história. Em larga medida, foi
através do discurso anticorrupção, colocando-se em sintonia com o simbolismo da Operação Lava Jato,
que Bolsonaro conseguiu se eleger. Não obstante, o presidente faz hoje
movimentos sinuosos para agir contra a atuação da Lava Jato sem parecer que o
faça. Provavelmente, age assim para proteger o senador e filho Flávio
Bolsonaro, que está sendo investigado
pelo Ministério Público do Rio Janeiro.
De forma igualmente incoerente, o presidente sancionou o
indecente Fundo Eleitoral de R$ 2 bilhões com a inacreditável desculpa de que
estaria “atrapalhando a democracia e o cumprimento da lei eleitoral com o
veto”, o que obviamente não procede, visto que o presidente tem autoridade
constitucional para decidir por quaisquer vetos, tanto quanto o Congresso
Nacional a tem para derrubá-los. Na minha terra isso se chama “desculpa
amarela.”
O governo atual é realmente inacreditável, mas a esquerda
brasileira não deixa por menos.
Catarina Rochamonte
Doutora em Filosofia, professora do curso de Pós-Graduação
em Escola Austríaca do Instituto Mises Brasil, vice-presidente do Instituto
Liberal do Nordeste e autora de 'Um Olhar Liberal-Conservador sobre os Dias
Atuais' (ed.Chiado)
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