Há duas semanas, a nata da intelectualidade carioca se
reuniu à frente da Fundação Casa de Rui Barbosa para protestar contra a
exoneração de diretores de centros de pesquisa da instituição e a falta de
qualificação acadêmica da presidente nomeada. Demitindo
profissionais de competência reconhecida, a roteirista Letícia Dornelles,
indicada por Pastor Feliciano, mostrava a que veio. O afastamento dos
pesquisadores revelava a intenção de desmonte das verdadeiras funções da casa:
guardar a memória e o acervo de escritores brasileiros e desenvolver estudos
sobre nossa cultura.
Com o jardim da Casa arbitrariamente fechado, cabeças
brancas —o PIB da nossa inteligência, falou um professor— juntavam-se na
rua aos estudantes, inclusive bolsistas da Casa, que diziam estar ao lado de
sua “bibliografia”. Gritavam todos: “abre os portões”, “volta pra Record”. E o
trânsito parado.
Isso foi antes de Roberto
Alvim encenar um Joseph Goebbels tupiniquim
na tentativa de agradar ao chefe. Afinal, ofender
Fernanda Montenegro lhe rendera uma promoção.
Com o secretário de Cultura demitido por excesso, Bolsonaro
convida para o cargo Regina Duarte e ficamos todos em suspense. A
atriz tornou-se especialmente conhecida com o papel de Viúva Porcina em “Roque
Santeiro”. Seus fãs, que ainda não se chamavam seguidores, chegavam até
Cuba, onde era adorada.
A novela foi criação de Dias Gomes,
um dos “comunistas do dr. Roberto”, como era conhecida a equipe de escritores
de esquerda que tornou a dramaturgia carro chefe da Globo, dentre eles Ferreira
Gullar, Vianninha, Paulo Pontes e outros.
Resta torcer para que a nova colaboradora do bolsonarismo
tenha aprendido que arte não convive com dirigismo ideológico, sectarismo, censura
ao pensamento e ouça as vozes dos que defendem a cultura.
Beatriz Resende
Ensaísta e professora de literatura na UFRJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário