Regina Duarte finalmente diz sim a Bolsonaro, e negocia
divórcio com a Globo
A atriz Regina Duarte disse “sim” ao convite do
presidente, Jair
Bolsonaro, e assumirá a Secretaria Especial de Cultura. Duarte viajou esta
tarde a Brasília para oficializar o casamento com o Governo e
começar a montar sua equipe. Ela foi convidada por Bolsonaro para ser
responsável pela pasta depois da exoneração de Roberto Alvim, que plagiou discurso e
estética de Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista. Ao chegar à
capital, a atriz afirmou a jornalistas que o noivado —termo
usado por ela mesma para referir-se ao período de reflexão sobre a proposta— com o presidente foi
“excelente”. No entanto, perguntada sobre o que pretende fazer à frente da
Secretaria, a atriz disse que “é cedo” para essas definições. Estrela da Globo
por 50 anos, a atriz negocia seu divórcio com a emissora.
“Globo e Regina Duarte estão negociando o fim da relação contratual, em função
da decisão da atriz de aceitar o convite para ocupar a Secretaria Especial da
Cultura”, leu o apresentador William Bonner no Jornal Nacional,
principal telejornal da TV.
O convite a Duarte foi lido por alguns membros do Executivo
como uma bandeira branca ao setor cultural, depois de um ano
de conflitos narrativos, com referências a uma “guerra cultural” por conta
dos cortes de orçamentos e censura a diversos projetos. Na
terça-feira (28/01), Bolsonaro disse que Duarte terá liberdade para fazer as
mudanças que desejar à frente da pasta e sua equipe afirmou que o presidente
não tolerará fogo amigo contra a nova secretária. Esse recado é para a ala
ideológica do Governo, que até então vinha comandando a Secretaria Especial de
Cultura.
“Para mim seria excepcional, para ela, ela tem a
oportunidade de mostrar realmente como é fazer cultura no Brasil. Ela tem
experiência em tudo que vai fazer. Precisa de gente com gestão ao seu lado, tem
cargo para isso, vai poder trocar quem ela quiser lá sem problema nenhum. Então
tem tudo para dar certo a Regina Duarte”, disse o presidente.
Nos bastidores do setor cultural, no entanto, produtores,
diretores e diferentes artistas são céticos quanto às mudanças positivas que
Duarte possa fazer. “Se ela está alinhada com o Governo, será mais do mesmo”,
afirma um cineasta que prefere não se identificar durante a 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que acontece até o dia
1º de fevereiro.
“Não acredito que ela vá, pelo menos de entrada, mudar a
política de desmonte cultural do Governo. Vai ter alguma política de fomento ao
cinema brasileiro? Enquanto não soubermos disso, não dá para não ficar com o pé
atrás”, comenta Camila Vieira, uma das curadoras da Mostra.
Ainda na terça-feira, Bolsonaro reconheceu que Duarte virou
“vidraça” depois das notícias divulgadas na última semana sobre irregularidades
com a Lei de Incentivo à Cultura, conhecida como Lei Rouanet. A
atriz é dona da empresa A Vida É Sonho Produções Artísticas e captou três
financiamentos no total de 1,4 milhão e reais. Em março de 2018, o extinto Ministério da Cultura recusou a prestação de
contas de um dos projetos, a peça Coração Bazar, que captou 321 mil
reais. Foi cobrado da atriz uma restituição de 319,6 mil reais, de acordo com o
Diário Oficial da União, e sua produtora apresentou recurso.
Postura política
Duarte chegou a criticar, em novembro do ano passado, a
indicação de Roberto Alvim para a Secretaria Especial de Cultura. “Quem me
conhece sabe que, se eu pudesse opinar, teria sugerido outro perfil. Alguém com
mais experiência em gestão pública e mais agregadora da classe artística”,
publicou a artista em seu perfil pessoal no Instagram, na época. A atriz
costuma utilizar seus perfis nas redes sociais para demonstrar apoio ao Governo.
Nos últimos meses, durante a publicação das notícias
com o vazamento de conversas entre o ex-juiz Sergio Moro e o promotor Deltan Dallagnol, ela utilizou o
Instagram para defender ambos —“Somos todos Sergio Moro”, publicou em uma
ocasião— e também posta mensagens contra o Supremo Tribunal Federal: “STF.
Guardião da Constituição ou da impunidade?”.
No entanto, quando a Ancine (Agência Nacional do Cinema) retirou os
cartazes de filmes brasileiros de sua sede e de sua página oficial, a atriz
—assim como fizeram outros artistas, principalmente os de esquerda— usou seu
perfil no Instagram para publicar cartazes de produções como Deus e o
Diabo na terra do sol, Tropa de Elite e Carlota
Joaquina.
Duarte teria rebatido, em uma reunião na última semana, as
críticas do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, sobre o filme Bruna
Surfistinha, de acordo com a colunista Mônica Bergamo, da Folha de
S. Paulo. Álvaro Antônio teria dito que o filme é um exemplo de projeto que
não deveria ser apoiado pelo Governo e Duarte rebateu com o argumento de que a
produção tem classificação indicativa e que a prostituição é a profissão mais
antiga do mundo, acrescentando que ela é uma artista e que os membros do
Executivo não poderiam esquecer-se disso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário