Talvez a maior lição que a gente aprenda com o coronavírus é
se importar com o outro. Há duas semanas, antes de a Organização
Mundial da Saúde decretar pandemia, antes de o Brasil registrar seus
primeiros casos, que agora já são quase 300, disse que tínhamos problemas mais
sérios do que o coronavírus e que não estava preocupada com a doença. “Claro,
devemos seguir as orientações das autoridades de saúde para que o coronavírus
não se espalhe ainda mais. Mas há outras urgências que deveriam, de fato, nos
deixar em pânico”, escrevi na ocasião.
Sim, temos uma lista enorme que vai de dengue a
deslizamentos de terra, que matam uma quantidade escandalosa de gente no país,
sem que fiquemos horrorizados como deveríamos. Mas a realidade sempre se impõe
e, apesar de continuar pouco preocupada com a minha própria saúde, parei com a
estupidez de olhar para meu umbigo, agarrar-me a estatísticas, e entender que
o coronavírus
entrou pela nossa porta. Essa é a realidade urgente que temos para o
momento. É um problema de todos e será devastador para o país e para o mundo,
mesmo que o número de mortos seja considerado aceitável para os padrões de uma
pandemia. Como se fosse, de alguma forma, aceitável que pessoas morram.
E quando a gente para de olhar para o nosso próprio umbigo
acontece uma mágica maravilhosa.
Entendemos que nossos problemas são muito pequenos, quando
não inexistentes, diante da tragédia que muitas pessoas enfrentarão com essa
doença. A
economia vai parar, empresas podem quebrar, haverá mais desemprego, autônomos
podem ficar sem renda alguma, pessoas morrerão. Mas o principal, tudo será
muito pior, e pior por mais tempo, se não pararmos nossas vidas agora. O
sistema de saúde não dará conta dos doentes, não só acometidos pela
coronavírus, mas por todas as enfermidades que já superlotam hospitais e postos
de saúde.
Precisamos parar e cada um preservar sua saúde para
não colocar
em risco a daqueles que não poderão ficar em casa. Profissionais da saúde,
da segurança, do setor de alimentação, jornalistas, entre outros, estarão na
linha de frente e precisam contar com a cooperação de toda a população. Temos
que escolher se seremos Itália ou Coreia do Sul na administração dessa crise.
Já temos gente demais que refuta as orientações das autoridades, e nossa
autoridade máxima que teima em deixar o país à deriva, na contramão do caminho
escolhido pelo mundo que é o de parar. Paremos.
Nós, brasileiros, vivemos em constante contradição. Somos
capazes de nos mobilizar diante de grandes tragédias para ajudar o próximo, mas
nos comportamos como uma corja repugnante que esvazia prateleiras de
supermercados quando nosso derrière fica na reta. Pois bem, amigos, estamos
todos com o rabo na reta, dependendo uns dos outros, como talvez nunca antes na
história.
Queremos um país diferente desde que não envolva sacrifícios
pessoais. Ficar
em casa nem deveria ser encarado como tal. Bem como disse o jornalista
português Rodrigo Guedes de Carvalho, "aos vossos avós foi-lhes pedido
para irem à guerra. A vocês pedem-vos para ficar no sofá. Tenham noção!"
Tenhamos noção. A realidade sempre se impõe. Façamos
diferente dessa vez, pensemos no coletivo, nos que mais precisam de ajuda, de
dinheiro, de esperança, de solidariedade, de cooperação. Pode ser o começo de
uma grande mudança.
TUDO SOBRE A COVID-19
Mariliz Pereira Jorge
Jornalista e roteirista de TV.
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