Carnaval já vai longe, mas agora é que vieram as máscaras. O
já popular coronavírus,
que os mais íntimos chamam tão somente de corona, fez os prevenidos saírem do
armário. E dá-lhe máscara, acessório que a gente se acostumou a ver pelo mundo
a cada ataque de um novo vírus, mas que não chegou a incorporar à rotina
nacional.
Foi baixíssima a adesão durante as outras Sars (síndromes
respiratórias agudas graves). Parecia exagero de poucos, frescura até. Agora é
diferente. Os fabricantes não esperavam o boom, deixando boa parte da clientela
desabastecida. E, já que crise é oportunidade, o preço das máscaras vem
aumentando na proporção da procura.
Festas, eventos, estreias, shows, a Covid-19 está
deixando todo mundo com o ingresso e os nervos pendurados, à espera da
remarcação. Quem mantém a data, acrescenta uma informação essencial. Traje:
máscara. Pode ir de alto esporte, passeio completo, gala, o que quiser, só não
esqueça da máscara. Talvez, como acontece no Oriente, as marcas comecem a
lançar modelos coloridos, estampados, de paetês, de oncinha. Pelo menos dá um
tchan no visual —ainda se fala “dar um tchan”?
A live do presidente mascarado apresentou uma cara mais
macabra para o corona. Tirem as crianças da sala. O marketing presidencial
parece mais tresloucado do que a política econômica. Em um dia, convoca uma
manifestação. Depois, nega. Aí, desconvoca. Em um dia, o coronavírus não é uma
ameaça. Algumas horas depois, máscara na live. Tonteia quase tanto quanto
acompanhar as oscilações da bolsa e a disparada do dólar.
Tão em evidência quanto a máscara, a mordaça também voltou
com tudo nesses dias. O governo mesmo faz uso, sempre que decide quem pode
transmitir suas notícias. Como se calar uma voz ou outra fosse remédio. O
problema é que esse tipo de pensamento é vírus, contagia o tico, contamina o
teco.
Há duas semanas, o paraninfo dos formandos de jornalismo de
uma das maiores universidades do Rio Grande do Sul tentou discursar sobre as agressões
sofridas pela imprensa e o direito à liberdade de expressão. Teve
que sair escoltado pela polícia para não ser agredido pelo público,
composto —em sua totalidade— pelas famílias e amigos dos jornalistas que
acabavam de receber seu diploma.
No caso do coronavírus, está faltando máscara. Já em tantos
outros, a máscara caiu.
Claudia Tajes
Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de
"Macha".
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