Durou pouco mais de um ano a ilusão de que o Congresso havia
jurado amor eterno à agenda de aperto nas contas públicas. Em mais um momento
tenso nas relações com o Planalto, os parlamentares decidiram espetar no
governo um gasto extra de R$ 20 bilhões por ano para ampliar o benefício pago a
deficientes e idosos muito pobres.
A derrubada do veto de Jair Bolsonaro a esse dispositivo é
mais uma prova de que nenhuma aliança funciona no piloto automático. No
primeiro ano de mandato, deputados e senadores firmaram uma parceria com a
equipe econômica e driblaram a tentação de criar despesas exageradas para os
cofres do governo.
O vento virou quando o presidente passou a guerrear de
frente com o Legislativo. As convocações para o protesto do dia 15 e a
intimidação aos parlamentares no debate sobre o controle do Orçamento, somadas
às recentes caneladas do ministro Paulo Guedes, implodiram o acordo.
O recado do Congresso veio numa fórmula conhecida e
irresponsável: a aprovação de uma medida com apelo social e grande impacto
fiscal. Os parlamentares decidiram que o chamado BPC também deve atender a
famílias que recebem até meio salário mínimo —não apenas àquelas que ganham
menos de 25%.
A expansão da rede de proteção social é uma pauta legítima,
mas congressistas costumam exercer autocontenção em momentos de aperto. Quando
a penúria vem acompanhada de uma crise política, essa agenda se torna uma
ferramenta de retaliação inconsequente, mas poderosa.
A derrota do governo pode desmantelar também o consórcio
entre Guedes e Rodrigo Maia. Políticos e investidores apontavam o enlace como a
salvação da agenda econômica diante da baderna produzida pelo presidente.
Agora, o presidente da Câmara não quis ou não conseguiu frear o caminhão
desgovernado.
Bolsonaro certamente posará de vítima e dirá que os
parlamentares querem implodir as contas do país. O Congresso corre o risco de
virar sócio do governo na crise econômica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário