Jair Bolsonaro diz por aí que uma economia parada vai matar
muito mais pobres durante a epidemia. Comendo mal, sucumbiriam mais facilmente
ao coronavírus. No universo de Bolsonaro e de seus economistas, os pobres devem
ser largados à própria sorte e assim herdarão a terra. Sete palmos de terra.
Se não houver tanto limite a aglomerações e a movimento de
pessoas, a economia ainda vai andar, segue o teorema Bolsonaro-Guedes. A
restrição não é o número de cadáveres, mas um ritmo mínimo da economia (qual?),
dado um gasto público fixo.
Em suma, por política e desumanidade costumeira, quer evitar
as restrições adotadas em todos os países que conseguiram atenuar a expansão da
epidemia.
É estapafúrdia a ideia de que a economia vá andar com o medo
crescente com a expansão da epidemia; com o colapso mundial; com a evaporação
de poupanças financeiras e empregos; com o choque de falta de suprimentos e o
diabo.
É uma falácia, de mesquinharia cruel, dizer que os abatidos
pela crise econômica da epidemia não devam ser compensados por renda mínima ou
coisa que o valha. Na verdade, será das poucas alternativas ao afundamento
ainda mais rápido da economia e da vida dos pobres em particular.
O governo não tem dinheiro? O governo terá de inventar
dinheiro, de forma ordenada e competente. “Competente” é uma premissa ousada:
com tantos executivos e empreendedores privados no governo, é rara a capacidade
de execução. Submetidos a uma assembleia de acionistas, estariam no olho da
rua.
O governo demorou para pedir ao Congresso o reconhecimento
da calamidade pública, com o que pode suspender as metas de gastos das leis
orçamentárias. Até agora, não tem plano de gasto extra. A dívida vai crescer?
Vai. Quanto irá crescer em caso de colapso do PIB?
Não há alternativa de política macroeconômica. A taxa real
de juros de curto prazo irá a zero. Resta um programa ordenado de gasto extra:
em saúde e na contenção da miséria. Pode ser que o governo acredite que,
contendo gastos, a confiança econômica será logo a seguir restaurada.
Sobreviria então, a dança da morte, a festa nos cemitérios.
Os juros de longo prazo subirão, dado o aumento do déficit,
sendo então o gasto contraproducente? Não haverá investimento tão cedo, talvez
nem crédito (por retranca bancária e de clientes). O governo vai pagar caro
para se financiar, para tomar emprestado? Se for este o caso, não role dívidas
pelos próximos meses. É possível.
Não se trata de um programa sem limite de endividamento sem
regras. Trata-se de dar dinheiro à contenção da epidemia e ao tratamento da
doença, de evitar o desespero dos feridos pela economia e assim sustentar algum
consumo. Algum: o medo e as restrições de movimento vão derrubar mesmo o PIB.
Deve-se pensar também no imediato pós-crise epidêmica e no
pós-paradão, em programa de investimento emergencial para facilitar a saída da
crise, algo bem pensado, de implementação e efeito rápidos (há boas obras
paradas), limitado em recursos e no tempo.
Um programa organizado, com prazo e recursos delimitados
(ATENÇÃO AQUI), pode evitar reações estereotipadas de “o mercado”.
Mas isso é debate racional, universo estranho aos Bolsonaro,
indiferentes à morte e que propagandeiam a ideia de que “não é tudo isso”, que
é possível manter a “normalidade”, a economia funcionando. Trata-se de ideia
inepta, cruel, desumana e degradante, ora subscrita pelos economistas do
governo.
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