Em momentos de tensão, Jair Bolsonaro gosta de investir no
tumulto. O presidente aproveitou o caos que se desenha na economia para lançar
novas suspeitas sem provas sobre o resultado das eleições e ampliar sua carga
de intimidação sobre o Congresso. De quebra, desdenhou do coronavírus e
levantou hipóteses de traição dentro do Planalto.
O pacote é mais do que um lance de diversionismo. Ele cumpre
o papel de desviar atenções e mascarar o fato de que o governo não tem um plano
para conter os riscos para a economia, mas o objetivo principal de Bolsonaro é
alimentar a desordem e cultivar um ambiente cada vez mais favorável a rupturas.
O presidente não explicou como pretendia reagir ao
derretimento das Bolsas em seu encontro com brasileiros em Miami, na segunda
(9). Preferiu fabricar mais um elemento de incerteza ao fazer um novo ataque à
lisura das últimas eleições.
Um ano depois de assumir o poder, ele se queixou de ter sido
alvo de uma falcatrua que teria impedido sua eleição em primeiro turno. “No meu
entender, teve fraude”, afirmou.
O TSE rebateu Bolsonaro e repetiu que as urnas são seguras.
O presidente alegou ter provas, mas não exibiu nenhuma evidência. Seu
propósito, afinal, é apenas lançar dúvidas para produzir um clima permanente de
desequilíbrio.
No dia em que a Bolsa despencou 12%, o presidente só
observou o pânico. Disse que as preocupações com o coronavírus eram exageradas
e, na manhã seguinte, deu de ombros: “Isso acontece esporadicamente”.
Em vez de apontar para águas mais tranquilas, Bolsonaro faz
questão de agitar o barco. Trabalha para ampliar as tensões com o Congresso e
desfazer a negociação que ele mesmo assinou para partilhar o controle do
Orçamento. Inventou ainda uma conspiração grave ao dizer que o acordo foi uma
rasteira de seus auxiliares.
A conduta irresponsável não é acidental. Este é o governo
que torceu por uma onda de protestos para reagir com medidas de exceção, como o
AI-5. A instabilidade seria uma desculpa para ampliar seus poderes.
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