Arminio Fraga lidou com a grande crise da desvalorização do
real, faz 21 anos. Era o recém-nomeado presidente do Banco Central quando a
então recente estabilização da moeda parecia ir para o vinagre. O que fazer
agora?
O economista e financista não propõe medidas heroicas. É o
caso de “evitar grandes ruídos nas mais diversas áreas, manter a disciplina
macro e tocar a agenda de reformas. O Congresso tem feito muito, mas precisa de
mais ajuda do Executivo”. O governo tem atrapalhado.
Fraga observa que o primeiro ano do governo poderia ter sido
aproveitado para mais reformas, mas então nem as prioridades foram apresentadas
com clareza. Perdeu-se tempo com um plano de reforma tributária inviável, em
parte pela ideia de recriar uma CPMF, por exemplo.
Até agora, não se sabe quais são as prioridades e tampouco o
governo parece saber o que quer fazer. Há confusão, desarticulação política no
Congresso. “Pela confiança, não estão ganhando o jogo”.
Aumentar o gasto público, mesmo de modo emergencial, a fim
de elevar o investimento, não seria uma opção.
Sim, houve um colapso do investimento público, que está em
mínimos históricos. “Algum investimento público é indispensável. Agora, não
vejo como aumentar, o Estado está quebrado”.
Países que têm crédito no mercado pagam juros baixos, como
EUA e Alemanha, podem investir em época de crise. Não seria o caso de quem teve
problemas de excesso fiscal e tem dívida alta, argumenta.
“Neste momento, uma tentativa de aumentar despesa, mesmo
estritamente direcionada a investimento, tende a desestabilizar tudo e ter
efeito contraproducente. Por ora, nosso problema ainda é reencontrar espaço
fiscal para fazer investimento público”.
Crescimento ainda menor que o ora previsto ou até a
estagnação de fato mudam o receituário de curto prazo?
“O BC está explorando os limites da queda de juros, uma
novidade para nós. Dados os riscos internos e externos recomenda-se alguma
cautela. Essa parece ser a nossa sina”.
Há algum risco financeiro submerso, dados os solavancos
financeiros e a ameaça de crise econômica?
Fraga diz não ver problemas nos canais financeiros, que
estariam azeitados, e menos ainda nos bancos.
Nada a ver, por exemplo, com o que se viu nas crises
financeiras de 2008 nos EUA, com paralisia nos empréstimos interbancários, ou
de 2012, com bancos europeus com problemas nos créditos para países
endividados. Mas acha que ainda é difícil ter ideia mais precisa dos efeitos do
tumulto.
Algum outro efeito mais concreto nas finanças por aqui?
Pode-se pensar na reação de investidores de varejo. Houve
facilidades e interesse, devido aos juros baixos, de investir em ações e
debêntures. Com as quedas e variações de preços violentas, pode haver um abalo
nos ânimos.
“É um aspecto novo no mercado brasileiro, que é interessante
acompanhar. Houve alguma euforia, que acabou de acabar”. Esses tombos no
mercado contribuem para diminuir a confiança do setor real.
“Além da timidez do gasto, tanto no consumo quanto no
investimento, pega no câmbio, que por ora está reprimido pelas declarações do
Banco Central. Mas estão apenas reprimindo a volatilidade. Se o clima geral [no
mercado] seguir nessa toada um tanto bizarra, aquilo que hoje se reprime volta
mais forte no futuro”.
A queda da despesa do governo (em obras, equipamentos etc.),
não foi compensada pelo investimento privado. “Em parte, porque há capacidade
ociosa, em parte porque a perspectiva é de crescimento lento, um pouco disso
tem a ver com confiança, que depende também do governo, que tem atrapalhado”.
O que vai ser de EUA e Europa? A hipótese é recessão: “Com
sorte de curta duração, mas esses processos às vezes adquirem vida própria”.
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