Enquanto o Brasil registra as primeiras mortes provocadas
pela Covid-19, o governo Jair Bolsonaro toma, em meio a um discurso errático,
suas primeiras medidas mais drásticas —entre as quais se destaca, pela carga
simbólica, o pedido ao Congresso de reconhecimento do estado
de calamidade pública.
Em termos práticos, abre-se o caminho para a elevação de
gastos públicos destinados a combater a doença e seus efeitos econômicos. Nesta
quarta (18), anunciou-se um desembolso
de R$ 15 bilhões em três meses para o amparo de trabalhadores informais.
A providência vai ao
encontro do que defendeu esta Folha, mas ainda carece de
detalhamento.
Espera-se que ao menos as ações do governo se mostrem mais
tempestivas e coerentes que as declarações do chefe de Estado. Em confusa
entrevista coletiva, cercado de ministros, Bolsonaro mostrou mais preocupação
em repetir bravatas do que em aprender o uso correto da máscara de proteção.
Além de apontar a calamidade pública, o Executivo publicou
portaria estabelecendo punições a quem descumprir ordens médicas e determinando
o uso de força policial para encaminhar pacientes desobedientes.
Todas as unidades da Federação estão suspendendo as aulas
nas escolas das redes pública e privada e limitando as atividades nas
repartições. O estado do Rio proibiu a entrada e a saída de ônibus na região
metropolitana, além de reduzir a lotação dos coletivos.
Em São Paulo, cidade mais atingida, o prefeito Bruno Covas
(PSDB) decretou situação de emergência e determinou o fechamento de comércios e
aparelhos culturais.
Nada disso constitui exagero, ainda que as mortes contadas
até aqui representem parcela pequena das infecções causadas pelo vírus
Sars-Cov-2. Hoje, a letalidade da doença é estimada em 3,6%, com uma
distribuição bastante desigual entre as faixas etárias.
O maior risco decorrente da epidemia, do ponto de vista da
saúde pública, é o contágio maciço da população num curto espaço de tempo, e,
por conseguinte, a sobrecarga dos serviços de atendimento.
Pelos dados até aqui coletados, cerca de 15% das pessoas
contaminadas terminam por desenvolver quadros graves, que podem acarretar a
necessidade de cuidados hospitalares, e 5% atingirão estado crítico,
necessitando de suporte ventilatório em leitos de UTI.
Como se trata de uma doença que se alastra velozmente, a
demora para agir pode levar a um colapso do sistema de saúde, como tem sido
visto na Itália e no Irã.
O efeito colateral das medidas de isolamento e quarentena é
a queda brutal, ainda que temporária, da atividade econômica, com efeitos
dramáticos sobre a renda dos mais vulneráveis. Esta calamidade pode ser apenas
atenuada, a um custo fiscal grande, porém inescapável.
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