Contra o confinamento social, Jair Bolsonaro se meteu em um
isolamento político, como reforçam o tom da entrevista do ministro Luiz
Henrique Mandetta (Saúde), no sábado (28), e as declarações do vice, Hamilton
Mourão, à Folha.
Não há uma figura de alto calibre do governo que abrace o
discurso de menosprezo à pandemia. Nem mesmo o ministro Paulo Guedes, em pânico
pelos efeitos do coronavírus na economia, tem feito pouco caso.
É indefensável o gesto do presidente neste domingo (29) em
passear pelo comércio de Brasília, conversar com pessoas e, pior, causar
aglomeração, foco de contaminação.
O coronavírus já havia ainda mais afastado o Legislativo do
Planalto. Os panelaços diários pelo país indicam um desgaste popular, apesar de
o presidente manter sob sua rédea uma parcela fiel e significativa do
eleitorado da disputa de 2018.
O temor em perder apoio de empresários e de trabalhadores
autônomos levou o chefe da República a endurecer o discurso e defender a
abertura do comércio e de escolas.
Não só. Bolsonaro passou a estimular e postar em suas redes
sociais carreatas nas cidades contra o confinamento tão recomendado por especialistas
e pelo próprio ministério.
Apesar dos afagos que fez ao patrão, honrando o DNA fazedor
de média de todo político raiz, Mandetta afirmou que agora não é hora de
carreatas e provocou quem pretende seguir o buzinaço de veículos: “Daqui a
duas, três semanas, os que falam ‘vamos fazer carreata’ vão ser os mesmos que
vão ficar em casa”.
Documento revelado pela repórter Natália Cancian mostra que
os técnicos da Saúde estão dispostos a ignorar a posição do presidente.
O entorno de Bolsonaro no Planalto, sobretudo a chamada ala
militar, também está insatisfeito com seu comportamento na crise do vírus.
Com sutileza, Mourão afirmou que o coronavírus não é uma
“gripezinha”, mas algo sério a combater.
O bom senso até parece existir dentro do governo, mesmo com
os gestos imprudentes de quem o chefia.
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