Reza uma máxima antiga que até relógio parado acerta duas
vezes por dia. O presidente Jair Bolsonaro e seu modelo Donald Trump, dos EUA,
apostam nessa chance ao propagandear
maravilhas da cloroquina contra o coronavírus.
O remédio, de amplo uso contra a malária, é barato. Será um
alívio se for comprovada sua eficácia contra o Sars-CoV-2, para o qual não
existe vacina, e há alguns indícios nesse sentido —indícios, não
evidências sólidas que justificassem chefes de Estado a exibi-lo como
saída fácil para a pandemia.
Cloroquina e hidroxicloroquina têm ação antiviral detectada
há décadas em culturas de células, mas comprovaram eficácia clínica contra
poucos vírus. Por falta de alternativa, alguns hospitais chineses as empregaram
em pacientes graves de Covid-19, com relatos anedóticos de bons resultados.
No Brasil, o Ministério da Saúde recomendou o uso do
medicamento em casos graves por até cinco dias, o que já vem sendo feito por
hospitais de referência.
Na primeira quinzena de março, testou-se a hidroxicloroquina
em 20 doentes franceses e reportou-se redução do CoV-2 após a aplicação, em
particular em associação com o antibiótico azitromicina. Trata-se de resultado
preliminar, dada a amostra diminuta e a falta do crivo de outros cientistas.
Outra pesquisa, realizada na China, foi menos animadora.
Repartiram-se 30 pacientes em dois grupos, e só um recebeu hidroxicloroquina,
ficando o outro com tratamento convencional para Covid-19. Não se constatou
diferença terapêutica, porém, entre eles.
O efeito colateral de ignorar essa indefinição científica e
fazer propaganda da cloroquina tem sido uma corrida de pessoas saudáveis, no
afã ilusório de proteger-se, à suposta panaceia. Como o medicamento também
serve para tratar lúpus e artrite, quem sofre desses males crônicos enfrenta
agora mais dificuldade para obtê-lo.
Não há o que estranhar nesse comportamento irresponsável dos
presidentes, que repete um padrão. Bolsonaro e Trump também se prestaram a
criticar o distanciamento social como medida para evitar o avanço das infecções
e o colapso do sistema hospitalar.
Trump, contudo, deu meia-volta e já conclamou americanos a
ficar em casa, depois de ver os Estados Unidos se tornarem líder mundial no
número de infectados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário