Embora tenha sempre escrito artigos onde afirmava a
importância da segurança biológica, sou ignorante em vírus.
Cada um que aparece me obriga a um intenso esforço para
entendê-lo e contribuir com sua neutralização.
Foi assim com a AIDS que farejei nos seus primeiros sinais.
Antes mesmo de se expandir no Brasil, procurei advertir as autoridades. Era
deputado e, mais tarde, apresentei o projeto do coquetel gratuito. O então
Senador José Sarney havia apresentado um projeto idêntico. Eu o procurei para
somarmos força.
Naquele época houve uma breve discussão com o setor
econômico do governo. Valia a pena gastar tanto dinheiro? Prevaleceu a ideia de
salvar vidas.
No caso do corona, desde o surgimento em Wuhan, acompanho
também com interesse, as vezes mencionando- o em artigos possivelmente
considerados monótonos: era um perigo distante.
Passei o carnaval fixado nos dados da Itália onde os
primeiros casos fatais se apresentavam. Não queria passar por um velho
agourento mas ainda assim ao invés de me fixar na festa popular, escrevi sobre
o corona.
Mas o que pode mais um ignorante fazer? Não tenho ânimo para
participar do coro que ensina as pessoas a cuidarem de seu cotidiano, o que
comer, como fazer ginástica, que tipo de comportamento é mais saudável na
quarentena?
A única forma que tenho de contribuir é estimular o
conhecimento do problema. Desde o princípio me limitei a algumas teses
elementares: a primeira delas foi sugerir a do uso dos milhões de smartphones
para manter as pessoas informadas e ajudá-las nas suas dificuldades.
A segunda, ainda sem conhecer bem o vírus, expressei assim:
testes, testes, testes. Repeti três vezes por uma questão de retórica.
Apesar da ignorância, aquela tríplice menção ao teste acaba
tendo uma certa relação com a realidade.
São importantes os testes para definir se a pessoa está
contaminada. Mas há também um segundo tipo de teste que avalia o nível de
anticorpos em cada organismo: isso permite prever quem está potencialmente
imunizado.
Leio agora que a Universidade de Campinas está desenvolvendo
um terceiro teste que possivelmente poderá determinar se o corona vírus já
detetado num organismo pode avançar ou se tornar menos ofensivo.
Cita-se hoje, graças a Bolsonaro, a frase de Obama: a
ignorância na vida ou na política não é uma virtude.
Mas se você transforma a própria ignorância num desejo de
saber até que pode ser uma ajuda. O mundo inteiro corre para conhecer e
derrotar o corona vírus.
Isto é tarefa para os cientistas. Mas um dos ensinamentos de
Camus na Peste é reconhecer que cada um ajuda realizando o seu trabalho.
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