Governos de China e EUA fazem escalada de expulsão de
jornalistas
Na China, é manchete online na versão em inglês (Global Times, com a
ilustração acima) do tabloide Huanqiu, "China mira direto na mídia
espalha-boatos dos EUA".
Descreveu como "contramedida" ou ação de
"reciprocidade" a exigência do ministério do exterior para que
"Voice of America, New York Times, Wall Street Journal, Washington Post e
Time declarem informações sobre suas equipes, finanças, operação e imóveis na
China".
Seria "resposta à supressão injustificada e às práticas
discriminatórias do governo Trump contra jornalistas chineses", também de
cinco veículos, entre eles o Renmin Ribao ou Diário do Povo, ao qual é
vinculado o Huanqiu, ambos do PC chinês.
Nos EUA, é chamada digital no NYT,
"China diz que vai expulsar jornalistas americanos", acrescentando
que não é muito claro ainda o alcance da decisão.
Logo abaixo, "ação vêm semanas depois que Trump limitou
o número de cidadãos chineses que poderiam trabalhar nos EUA para veículos
chineses controlados pelo estado", de 160 para 100 jornalistas.
Também virou chamada de WSJ e WP,
os três destacando as palavras do secretário de Estado, Mike Pompeo: "Isso
não é trocar maçãs por maçãs. Vocês todos [repórteres que o ouviam] me
perguntam o que quiserem e eu dou a resposta. Sabemos que esse tipo de
liberdade não existe na China".
Os três jornais americanos citam ainda nota de Martin Baron,
editor do próprio WP, para quem a decisão "é particularmente lamentável
porque ocorre no meio de uma crise global sem precedentes, quando informações
claras sobre a resposta internacional ao Covid-19 são essenciais".
Dean Baquet, editor do NYT, soltou nota depois, dizendo que
"é fundamental que os governos dos EUA e da China se movam rapidamente
para resolver
essa disputa e permitir que os jornalistas façam o importante trabalho
de informar o público", também citando a pandemia.
As decisões de Pequim e Washington ocorreram em paralelo à
controvérsia gerada por um título
de coluna do WSJ em fevereiro, "China é o verdadeiro homem doente
da Ásia" (acima). A expressão "sick man of Asia", vista como
racista e remanescente do período de dominação britânica, causou revolta no
Weibo, a rede social chinesa, e na própria equipe local do WSJ.
O Washington
Post de Baron acompanhou o caso com atenção e distanciamento,
informando da carta enviada por 53 profissionais do WSJ na China à sede em Nova
York, pedindo que o jornal se desculpasse. O WSJ havia apenas
"lamentado" o episódio.
"Achamos inconvincente o argumento de que não houve
ofensa intencional", escreveram os 53, parte deles chineses. "Alguém
deveria saber que isso causaria ofensa generalizada. Se não sabiam, cometeram
um erro grave, devem corrigi-lo e pedir desculpas."
A direção novamente se recusou a pedir desculpas. E nesta
terça (17) foi publicada nova coluna de Walter Russell Mead, mais conhecido no
Brasil por ter participado de um jantar em homenagem ao presidente Jair
Bolsonaro, no ano passado.
Ele escreve que "Pequim
vai continuar a explorar a pandemia" se não enfrentar reação e cita
uma conversa com Mike Pompeo no fim de semana. O secretário teria dito que
"os EUA providenciaram assistência médica à China", enquanto esta
"usou a pandemia para lançar uma campanha maciça de propaganda e
desinformação".
A coluna coincidiu com um tuíte de Trump, tentando
estabelecer o Covid-19 como "Vírus
Chinês". A decisão chinesa contra os jornais americanos veio na
sequência.
Nelson de Sá
Jornalista, cobre mídia e política na Folha desde a eleição
de 1989.
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