O governo decidiu encarar as dificuldades da economia como
uma mera briga de arquibancadas. Depois que o PIB registrou um crescimento
frustrante em 2019, a equipe de Jair Bolsonaro deformou os números para dizer
que tudo vai bem. Os dados ruins seriam só “mentiras de quem torce contra o
Brasil”.
Quando governantes trombam com sinais negativos e tentam
convencer a população de que a culpa é dos pessimistas, é sinal de que já
existem engrenagens girando em falso.
Confrontado com os sintomas de uma crise econômica no fim de
1998, Fernando Henrique Cardoso reclamava das cassandras, em referência à
personagem da mitologia grega conhecida por suas previsões negativas. Nos meses
seguintes, o país registrou crescimento de menos de 0,5% e a cotação do dólar
disparou.
A tática é útil sobretudo para políticos que querem esconder
seus erros. Em 2014, a campanha de Dilma Rousseff criou um personagem ranzinza
para zombar de rivais que apontavam para o colapso econômico que se desenhava.
O Pessimildo foi um fiasco na propaganda eleitoral, mas a petista se reelegeu e
colheu os efeitos de suas barbeiragens.
Bolsonaro também procura um culpado para fingir que trata a
economia como coisa séria. Depois de fazer piada, o presidente afirmou que o
problema está nas manchetes dos jornais. “O pibinho, pibinho, não sei o quê. Se
a imprensa produzisse verdade, o Brasil estaria muito melhor, com toda a
certeza”, declarou.
O ministro da Economia seguiu o chefe e pôs a desvalorização
do real na conta de repórteres inquietos. “Se vocês estiverem menos nervosos
daqui a um mês, quem sabe o dólar acalma. Eu estou absolutamente tranquilo”,
disse Paulo Guedes.
Mesmo os alertas lançados pela própria equipe econômica são
tratados como catastrofismo ou excesso de ansiedade. O secretário do Tesouro afirmou
que um crescimento de 1% ao ano “não é normal” e foi ironizado por Guedes.
Aqui, o governo passou da tentativa de enganar os outros para a fase do
autoengano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário