Entre o sentimento de desconforto e desespero, por ver os
apoios escapando no mesmo galope do “pibinho” e da evidente falta de habilidade
e tarimba para tratar desafios corriqueiros, o mandatário comporta-se nos
últimos dias como barata tonta. Não sabe para onde vai. Não sabe o que fazer.
Acerta acordo de orçamento com os parlamentares e depois volta atrás.
Desconsidera a ameaça crescente do coronavírus — atribuindo a epidemia ao que
define como alarmismo da mídia —, enquanto as próprias autoridades do setor
falam em problema grave. E dá de ombros diante das flutuações pesadas do
mercado global em convulsão de viés recessivo. Move-se apenas e tão somente
olhando para os índices de sua audiência pessoal junto à claque das tribos
digitais. A reação ali é negativa? Ele joga para trás o que fez até então e
segue na trilha contrária. Com a maior desfaçatez e caradurismo. Negando
coerência para ficar o dito pelo não dito. A barata tonta não tem plano. Não
tem rumo, nem tática.
Muito menos lógica. Um chefe da nação por deveras nada
confiável. Jair Bolsonaro, o menestrel da “mamadeira erótica” e do “golden
shower”, atua como um mero animador de picadeiro. Tentando entreter e manter
acesa a plateia com suas esquisitices e retórica, por assim dizer, equestre.
Que país está seguro nas mãos de um sujeito como esse? O Messias ficaria bem no
papel de bufão de arena a apresentar a mulher barbada, o homem elefante e
outras atrações grotescas, antes exibidas deprimentemente em circos de horrores
da era vitoriana. O capitão, na verdade, é o “freak show” em pessoa, com as
suas imprecações nada convencionais. Equilibrando-se entre a política populista
de caudilho e a delinquência, chegou a apontar que houve “fraude” no primeiro
turno da eleição. E prometeu provas! Quais seriam? De “santinhos” por
habitante? A medir pelas bravatas anteriores, o novo crime de responsabilidade
do presidente — repetindo a rotina de atentar contra demais poderes — deve
habitar, como de costume, o universo da ficção. Ele mente com a frequência de
quem escova os dentes diariamente.
Na boca suja de praguejos cabem bananas aos desafetos e até
mesmo desatinos intelectuais, tipo interpretar a crise do petróleo como algo
positivo — em desalinho com o entendimento mundial. Bolsonaro não percebeu
ainda o flagelo ideológico em que se encontra. Nem ele, nem a entourage de
fanáticos veneradores. Há pessoas que julgam os seus semelhantes como se todos
indistintamente lhes compartilhassem as visões de mundo e a consistência do
caráter. O “mito” está cada vez mais parecido com tal espécime. Enquanto isso,
brasileiros e brasileiras que têm algo a perder além da vida sentem-se como
passageiros de um barco furado. O comandante-capitão vai perdendo a autoridade
graças à incompetência, mas está disposto a lutar pelo melhor lugar a bordo do
primeiro bote salva-vidas. Nessa nau de insensatos, não se trata de demitir o
grumete, o contramestre ou, até, o contra-almirante.
Temos um desgoverno e o primeiro responsável atende pelo
nome de Jair Bolsonaro. Que não passaria em teste de marinheiro-raso. A
tripulação está indócil. Os viajantes trocam acusações, insultos, rasteiras e,
na ponte de comando da embarcação, se avista o iceberg. Nessa aventura
perigosa, o Brasil já começa a sofrer os solavancos de um mar revolto e das
manobras nada ortodoxas do timoneiro. Os números de crescimento econômico —
como de resto os indicadores de emprego, investimento e renda — vêm sendo
revistos para baixo. Um estoque respeitável de reservas cambiais queima em meio
à tempestade para azeitar o motor da produção. A inabilidade na articulação
grassa como argumento para a intolerância. A truculência bolsonarista não poupa
conselheiros que pedem cautela. Assessores do governo com esse perfil são
lançados ao mar. Fiéis colaboradores — dentre os quais empresários simpáticos
ao pendor totalitário, desde que garantam seus negócios — brandem o cassetete e
bancam campanhas de convocação a protestos contra quem acha poder oferecer
solução alternativa. O Congresso e o STF, principalmente, estão na mira de
tiro. Vilões e protagonistas das manifestações tresloucadas desse final de
semana. É recurso clássico de líderes ameaçados, um ardil leguleio contra a lei
da razão e da civilidade, apelar para a baderna de ruas como forma de pressão.
Pela mão do pretenso maquiavelismo do Planalto, cidadãos (graúdos e miúdos)
embarcam no chamamento sem se dar conta de servir como massa de manobra no
espetáculo “nonsense” do Popeye. Até que as cortinas fechem e se note que havia
pouco pão, daí muito circo.
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