O presidente Bolsonaro aproveitou até mesmo a desmobilização
de seus seguidores para cutucar os congressistas, que dias antes haviam dado um
troco a seu governo ao derrubar irresponsavelmente um veto seu, criando uma
despesa nova de R$ 20 bilhões sem saber de onde esse dinheiro viria.
Diante da crise do Covid-19, o presidente foi obrigado a
aconselhar seus seguidores a não fazerem as manifestações programadas para
amanhã, mas fez do limão uma limonada.
Criticou indiretamente o Congresso de todas as maneiras que
pôde, comemorando um suposto “recado das ruas” contra os políticos. Não
aproveitou a ocasião para pacificar os ânimos, ao contrário.
A direita internacional está usando a crise do novo
coronavírus para reforçar a tese nacionalista de que fechar as fronteiras é a
melhor resposta à globalização, que estaria sendo confrontada pela realidade.
O presidente dos Estados Unidos Donald Trump tentou
inicialmente minimizar as conseqüências da crise de saúde pública mundial, mas
teve que se curvar aos fatos. Aproveitou para jogar sobre a União Européia a
culpa da disseminação do vírus, e fechou os aeroportos aos europeus, com
exceção dos ingleses, como se o brexit fosse uma fronteira intransponível para
o Covid-19.
Os extremistas americanos atribuem a situação a uma manobra
política da esquerda para derrotar Trump. Outros acham que é uma jogada da
China, que sairia fortalecida política e economicamente sendo o primeiro país a
controlar a crise. Até mesmo os grandes laboratórios farmacêuticos estariam por
trás da crise, em busca de lucros no capitalismo selvagem.
A mesma postura regressiva foi utilizada aqui por Bolsonaro,
que tentou mascarar a verdade atribuindo a pandemia a uma ação conjunta da
“grande mídia internacional”, que estaria fantasiando a realidade, não se sabe
com que intenções. Talvez impedir a “decolagem” da economia brasileira, que, na
visão do ministro da Economia Paulo Guedes, estava prestes a acontecer.
Como não temos fronteiras a fechar por aqui, nem somos
vítimas de conspirações internacionais, Bolsonaro não conseguiu criar um
ambiente irresponsável, embora tenha adiado ao máximo a admissão de que a
situação era grave.
A realidade crua destrói essas teorias conspiratórias, como
no caso brasileiro, que obrigou Bolsonaro e seus assessores diretos a usarem
máscaras depois que o chefe da Secretaria de Comunicação, que o acompanhou na
recente viagem aos Estados Unidos, foi identificado com o Covid-19.
Um caso exemplar de teoria da conspiração aconteceu com um
dos filhos do presidente, aquele que sonhava ser embaixador do Brasil nos
Estados Unidos e que nunca ouviu falar em Henry Kissinger. O deputado Eduardo
Bolsonaro também não sabe o que é coronavírus, e, por ignorância, gerou uma
desinformação importante nos Estados Unidos.
Entrevistado pela Fox News, emissora direitista que apóia
Trump, ele, ao responder a uma pergunta da âncora do programa, comentou que o
pai havia testado negativo para coronavírus “que nos Estados Unidos chamam de
Covid-19”, como se fossem a mesma coisa.
Tomou uma aula ao vivo da jornalista, que explicou que
diversos tipos de coronavirus existem há muitas décadas, e que Covid-19 é um
novo tipo da família viral. Talvez por ignorância, e não má-fé, Eduardo tinha
passado anteriormente a informação para a mesma Fox de que o presidente Bolsonaro
testou positivo para coronavírus.
O que quer dizer que não poderia ter o Covid-19, mas
provavelmente ele misturou tudo. O jornalista John Roberts revelou em um tuíte
que fora Eduardo quem lhe dera a informação. Para não fugir à lógica própria
dos Bolsonaro, o deputado atribuiu o mal-entendido à má-fé do jornalista, que
estaria divulgando fake news.
A existência dessas versões amalucadas demonstra, porém, que
a politicagem vulgar não é uma característica brasileira do momento, mas do
populismo que toma conta do mundo, agora de teor direitista.
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