segunda-feira, 30 de março de 2020

O VÍRUS QUE NOS APAVORA

Sandra Starling, OS DIVERGENTES
Corpos que escondem o vírus porque atletas não costumam ter vírus, serem iguais aos outros, perderem-se na multidão dos que batem ponto, dos que todo dia precisam ter algo para fazer (comer), “são 6 bocas em nossa casa, Dona, pelo amor de Deus, me dê uma esmola, me dê o direito de faxinar sua casa, compre o pano-de-prato que bordei, olha só que lindo, a Senhora nunca mais vai ver coisa tão bem feita”… e mendigos que rondam a porta de seu carro, de sua casa, de seu sossego.
Agora somos todos mendigos que suplicam por saúde, que se enfiam em suas tocas, grã-finas ou miseráveis – tanto faz. O vírus invade tudo, ronda aqui perto, tenta me tocar, eu que sou idosa e vaidosa e tenho várias comorbidades. O QUE SÃO COMORBIDADES? ALGUÉM FICA IDOSO SEM COMORBIDADES??? E os que morrem jovens, sem comorbidade alguma?
Agora tanto faz ser o patrão ou o empregado numa fábrica que fechou, num comércio de alto luxo ou num comércio de rua – desses aonde se compram fantasias de carnaval, que o carnaval acabou ainda há pouco, com suas mulheres nuas ou quase nuas, tocando tambor. Por que as mulheres tocam tambor como na antiga Atenas, celebrando sei-la-quê-festejo pagão, inebriadas de vinho, em orgias com Dionísio?
Quem mandou as mulheres tocarem tambor anunciando a morte? Ou o sexo?
Hordas de famintos vão invadir a propriedade alheia: a propriedade é alheia nessas horas em que todos somos iguais? E se decidirem invadir os hospitais particulares, aqueles aonde foi Lula, foi Dilma, foi o Capitão-bão-ba-lão-bão-bão? E se o SUS não conseguir conter a horda de desesperados, aqueles que precisam trabalhar e os que deles precisam para trabalhar, nestas horas todos somos trabalhadores, tanto faz qual o lugar que ocupamos nas empresas, se tocando o trator, montando o cavalo, se representando o patrão como mestres-de-obras, se operários caindo da construção, se engravatados banqueiros, se deputados, senadores ou sei-lá-que riqueza possuo eu. Possuem minhas mulheres ou meus homens, que também os coleciono como eles, todos agora são iguais, todos somos iguais… todos morremos iguais…
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