Corpos que escondem o vírus porque atletas não costumam ter
vírus, serem iguais aos outros, perderem-se na multidão dos que batem ponto,
dos que todo dia precisam ter algo para fazer (comer), “são 6 bocas em nossa
casa, Dona, pelo amor de Deus, me dê uma esmola, me dê o direito de faxinar sua
casa, compre o pano-de-prato que bordei, olha só que lindo, a Senhora nunca
mais vai ver coisa tão bem feita”… e mendigos que rondam a porta de seu carro,
de sua casa, de seu sossego.
Agora somos todos mendigos que suplicam por saúde, que se
enfiam em suas tocas, grã-finas ou miseráveis – tanto faz. O vírus invade tudo,
ronda aqui perto, tenta me tocar, eu que sou idosa e vaidosa e tenho várias
comorbidades. O QUE SÃO COMORBIDADES? ALGUÉM FICA IDOSO SEM COMORBIDADES??? E
os que morrem jovens, sem comorbidade alguma?
Agora tanto faz ser o patrão ou o empregado numa fábrica que
fechou, num comércio de alto luxo ou num comércio de rua – desses aonde se
compram fantasias de carnaval, que o carnaval acabou ainda há pouco, com suas
mulheres nuas ou quase nuas, tocando tambor. Por que as mulheres tocam tambor
como na antiga Atenas, celebrando sei-la-quê-festejo pagão, inebriadas de
vinho, em orgias com Dionísio?
Quem mandou as mulheres tocarem tambor anunciando a morte?
Ou o sexo?
Hordas de famintos vão invadir a propriedade alheia: a
propriedade é alheia nessas horas em que todos somos iguais? E se decidirem
invadir os hospitais particulares, aqueles aonde foi Lula, foi Dilma, foi o
Capitão-bão-ba-lão-bão-bão? E se o SUS não conseguir conter a horda de
desesperados, aqueles que precisam trabalhar e os que deles precisam para
trabalhar, nestas horas todos somos trabalhadores, tanto faz qual o lugar que
ocupamos nas empresas, se tocando o trator, montando o cavalo, se representando
o patrão como mestres-de-obras, se operários caindo da construção, se
engravatados banqueiros, se deputados, senadores ou sei-lá-que riqueza possuo
eu. Possuem minhas mulheres ou meus homens, que também os coleciono como eles,
todos agora são iguais, todos somos iguais… todos morremos iguais…
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