Os líderes do G-20, grupo das principais economias do mundo,
anunciaram uma injeção da ordem de US$ 5 trilhões na economia global para
enfrentar os impactos da pandemia de covid-19. “O G-20 se compromete a fazer o
que for necessário para superar a pandemia”, informou o grupo em nota oficial.
No comunicado, o G-20 se diz “determinado a não poupar esforços, individual e
coletivamente, para proteger vidas; salvaguardar empregos e a renda das
pessoas; restaurar a confiança, preservar a estabilidade financeira, estimular
a recuperação e o crescimento econômico; impedir a interrupção do comércio e da
cadeia global de suprimentos; ajudar todos os países carentes de assistência;
coordenar ações nas áreas financeira e de saúde pública; e combater a
pandemia”.
Na reunião, feita por teleconferência, todos os líderes do
G-20 tiveram alguns minutos para comentários. O presidente Jair Bolsonaro usou
seu tempo para defender medidas para estimular a economia e destacar os
supostos progressos no desenvolvimento de uma droga à base de hidroxicloroquina
para conter o novo coronavírus – cujas pesquisas, a despeito do otimismo de
Bolsonaro, estão ainda longe de ser conclusivas.
Deve ter ficado claro para os demais chefes de governo do
G-20 que não podem contar com o colega brasileiro, perdido em seus devaneios sobre
uma cura milagrosa que viria a tempo de salvar milhares de vidas e, o que lhe
parece mais importante, evitar o colapso econômico do Brasil – pois, segundo
suas próprias palavras, “se afundar a economia, acaba com meu governo”.
Assim, para Bolsonaro, não importa nem preservar a economia
nem as vidas dos cidadãos; a única coisa que interessa é salvar seu governo e,
principalmente, sua imagem, com vista à próxima eleição. Por isso, insurge-se
contra todos aqueles que – governadores à frente, mas também seu ministro da
Saúde – propõem ou ministram remédios amargos, mas imprescindíveis, para conter
a epidemia.
Como mostrou o G-20 ao se propor a gastar US$ 5 trilhões
(mais que o dobro do PIB brasileiro) contra a pandemia, o que o mundo está
enfrentando não se cura com licor de cacau Xavier. Graças à liderança caótica e
hesitante de Bolsonaro, a equipe econômica até agora apresentou medidas tímidas
que representam menos de 4% do PIB, segundo cálculo da Fundação Getúlio Vargas,
enquanto os Estados Unidos poderão despender até 11% do PIB e o Reino Unido,
17%, para ficar apenas em países governados por políticos que Bolsonaro admira.
O Reino Unido vai bancar até 80% da renda dos trabalhadores cujos salários
forem suspensos, dentro de um limite de 2.500 libras mensais, bem acima do
salário mínimo de 1.300 libras. Já Bolsonaro dará um “voucher” de R$ 600 (60%
do salário mínimo) para trabalhadores informais – lembrando que, inicialmente,
o presidente havia proposto R$ 200, e só bancou um valor maior depois que o
Congresso propôs R$ 500.
Para Bolsonaro, contudo, tudo vai se resolver se as medidas
de isolamento social forem imediatamente suspensas. Tornou a atacar os
governadores, dizendo que estes terão de arcar com encargos trabalhistas de
quem for obrigado a fechar seu estabelecimento comercial. Para ampliar a
pressão, seu governo, contrariando diretrizes do próprio Ministério da Saúde e
o apelo de todas as principais entidades médicas do País, lançou nas redes
sociais uma demagógica campanha intitulada “O Brasil não pode parar”, que
minimiza a epidemia e defende “voltar à normalidade”. Com isso,
irresponsavelmente, estimula os brasileiros a desobedecerem à determinação de
governos estaduais para manter o isolamento social, única forma de impedir que
a epidemia cause o colapso do sistema de saúde – que, se ocorrer, ampliará de
modo exponencial o número de mortos e, consequentemente, o desastre econômico,
pois mortos não trabalham.
Mas Bolsonaro não está nem um pouco preocupado. “Eu acho que
não vai chegar a esse ponto”, disse o presidente. “Até porque o brasileiro tem
que ser estudado. Ele não pega nada. Você vê o cara pulando em esgoto ali. Ele
sai, mergulha e não acontece nada com ele.” Caramba!
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