Estocadas entre Bolsonaro e Maia refletem relação no limite
Há uma pergunta em aberto após a derrota imposta pelo
Congresso ao governo na ampliação dos benefícios assistenciais, criando uma
despesa de R$ 200 bilhões em dez anos. O episódio seria também sinal de
enfraquecimento do “primeiro-ministro”, Rodrigo Maia? Contrário à medida, o
presidente da Câmara perdera as rédeas da articulação ao não conter a fúria
revanchista de congressistas contra o Palácio do Planalto? Talvez.
Mas o clima de cizânia entre o deputado e Paulo Guedes
(Economia) abre espaço para outras leituras. Considerados os principais
artífices da aprovação da reforma da Previdência, os dois, que já rezaram o
mesmo credo, agora duelam.
Com o tranco provocado pelo pibinho de 2019, a guerra dos
preços do petróleo e a coronacrise, o ministro passou a jogar sobre os ombros
do Congresso a responsabilidade por uma solução. Enviou aos parlamentares uma
lista com 19 prioridades legislativas para gerar crescimento. Numa reunião,
cobrou deles uma saída política para o nó econômico, sem ele próprio apresentar
medidas de efeito imediato –essas seriam condicionadas ao avanço da agenda
reformista. “A solução é política, é de todos os senhores.”
À Folha, Maia verbalizou a frustração parlamentar. Neste
momento, reformas não bastam. “Se olhar os projetos, tem pouca coisa que
impacte a agenda de curto prazo ou quase nada. (…) A crise é tão grande que a
gente não tem direito de imaginar que o ministro de uma das maiores economias
do mundo possa ter pensado de forma tão medíocre.”
Em reação, Guedes anunciou na sequência que apresentará um
pacote econômico em 48 horas para combater os efeitos do coronavírus. Sem dar
trégua, pediu celeridade ao Parlamento nas reformas.
Enquanto flerta com o autoritarismo e semeia crises, a
gestão Bolsonaro falha em mostrar competência diante dos abalos que chacoalham
o planeta. Será Maia o adulto a sair da sala, condenando o governo à própria
sorte? Talvez.
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