Acabo de escrever o artigo quinzenal do Estadão. Dediquei
metade dele à guerra cultural. A tese é esta: os humanos acrescentaram à camada
de gordura do coronavírus seus fluidos ideológicos e ele se tornou ainda mais
letal.
Analiso rapidamente o comportamento de Donald Trump e seus
seguidores, sobretudo a campanha que os fanáticos moveram contra Anthony
Faucio, o homem que conduz a política sanitária por lá. Fauzio fala a verdade
e, em inúmeros casos, contesta o falso otimismo de Trump sobre o perigo da
doença ou mesmo a expectativa de cura pela cloroquina.
Falo também a maior parte do tempo em Bolsonaro e seu
comportamento. Lembro da Revolta da Vacina em 1904, que foi contra uma política
sanitária partida de um presidente.
Hoje o rebelde é o próprio presidente e alguns granfinos com
carros de luxo afirmando nas ruas que é preciso voltar a trabalhar.
Mas é claro que a partir daí volto a me concentrar no corona
vírus, o inimigo principal da humanidade, nesse momento. Estou contente pela
regulamentação da telemedicina. Isto vai ajudar. Cerca de 20 por cento dos nossos
médicos estão no grupo de risco. Vão poder trabalhar com essa ferramenta.
Será preciso algum treinamento, pois essa faixa de idade tem
alguma resistência a essa plataforma. Nada que não possa ser superado.
Contente também por ver a disposição do governo de usar
amplamente os 220 milhões de smartphones para monitorar a saúde, mapear áreas
de mais intensidade da pandemia, acompanhar casos com sintomas leves.
Desde o principio, bato na tecla de que este é um vírus da
era digital e todos os instrumentos precisam ser usados para atenuar seu
impacto, do home office ao monitoramento a distância.
Li ontem que nos EUA uma empresa que trabalha com
termômetros conectados à internet está monitorando a temperatura de 160 mil
pessoas nos EUA.
Esse campo é inesgotável. Compreendo a reserva dos que temem
uma invasão da privacidade. Yuval Harari fala num controle no interior de nossa
pele, algo mais profundo do que acontece hoje quando nos monitoram como
consumidores.
Acontece que esse dispositivo do governo assim como os
termômetros pela internet são usadas com a concordância da pessoa. São
mecanismos voluntários.
Como membro do grupo de risco não teria nenhum inconveniente
em participar da experiência. Não me importam que saibam da minha temperatura
por um determinado prazo de tempo.
Da mesma forma, dialogaria sem problemas com o robô do
governo que fizer perguntas sobre minha saúde nesses dias.
Um dos grandes problemas que passa na cabeça dos velhos
nesse momento é o que fazer se ficarem doentes, como se mover,
para onde ir, em que momento os hospitais da doença estariam
preparados para recebê-los.
Minha suposição é de que a inteligência artificial ajudaria
nessas respostas e o próprio governo os recolheria no momento necessário.
Apenas uma suposição, uma vez que sabemos como os serviços
estão sobrecarregados e como funcionam precariamente em tempos considerados normais.
Apesar de tudo, esses mecanismos aumentam as chances de um
trabalho eficaz. Essa simples possibilidade já é algo, num tempo tão desolador.
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