Hoje li um interessante artigo sobre o corona vírus. Todos
são interessantes mas alguns vão um pouco além da contagem de mortes.
O artigo é assinado por Joshua Rabinowitz e Caroline R.
Bartman, ambos cientistas e pesquisadores.
Eles levantam a hipótese de que assim como o veneno a
dosagem de exposição ao coronavírus aumenta seu perigo e letalidade.
Partem do exemplo do médico chinês Li Wenliang que morreu
aos 31 anos. Ele foi aquele médico que sentiu a importância da doença, quis
discutir publicamente e foi reprimido pelas autoridades.
A morte de um médico de 31 anos que tratava de doentes de
corona vírus talvez tenha acontecido porque se expôs a uma carga viral mais
intensa.
Inúmeras experiências com outro tipo de vírus demonstram que
a intensidade da carga viral tem importância. Talvez seja diferente, por
exemplo, uma pessoa contaminando a outra por um espirro ou uma contaminação
porque alguém tocou numa superfície metálica.
Isso já são especulações minhas. O artigo dos cientistas não
nega em nenhum momento a existência dos grupos de risco. Mas nos ajuda a
entender porque, em pessoas com sistemas imunológicos debilitados pela idade,
alguns têm sintomas leves outros vão à UTI.
Achei interessante o artigo porque se é verdade cada
organismo é um um caso singular, a intensidade da carga viral pode explicar
adicionalmente porque tantas diferenças de reação ao vírus.
Se for verdade também, os testes em massa que detetam os
anticorpos do vírus no organismo, podem indicar também que as cargas leves de
contaminação, as vezes assintomáticas, produzem uma legião de pessoas
imunizadas.
Para quem lê o que escrevo agora, isso tudo parece muito
lógico. Pode achar estranho que destaque algo aparentemente tão óbvio.
Nos meus conhecimentos limitados do tema, pensava assim: a
simples entrada de um vírus no organismo era suficiente para contaminá-lo
gravemente. Isto porque trabalhava com a hipótese de que o vírus coopta a
célula pulmonar e a obriga a produzir uma grande quantidade de proteína viral,
obrigando- a dessa maneira a multiplicar a quantidade de vírus no organismo.
Mas agora posso conciliar um pouco essa visão. Se é verdade
que um vírus escraviza uma célula, obrigando a trabalhar, uma quantidade maior
de vírus cooptará muito mais células e, certamente, tornará o caso mais grave.
Não vou pedir mais uma vez desculpas pela minha ignorância.
Não trabalho com vírus. Minha primeira grande reportagem quando tinha 18 anos
foi sobre a doença de chagas, transmitida pelo barbeiro. Era um tema
importante, tanto que dois jornalistas americanos do Saturday Evening Post
estavam lá no norte de Minas fazendo a mesma reportagem.
Um deles, o fotógrafo, aproveitou para me ensinar alguma
coisa: Establishing shot, aquela foto que mostra toda a cena . Ele subiu onde
havia um cemitério e fez uma imagem da cidade, com as cruzes em primeiro plano.
Isso é apenas um caso à parte. O mais importante é que a doença
de chagas ataca o coração e a pessoa morre de repente. Lembro-me que fiz a o
texto e Roberto Drummond, na época o editor, sugeriu o título para a história
da doença de Chagas no povoado: Aqui se morre como um passarinho.
Quem diria que fosse sentir saudades do barbeiro diante do
coronavírus.
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