“Não se faz Copa do Mundo com hospitais”, disse Ronaldo
Fenômeno, rebatendo as críticas sobre os gastos para a realização campeonato
mundial de futebol no Brasil em 2014. Também o então presidente Lula foi na
mesma linha, declarando que ser contra a Copa por causa dos hospitais seria “um
retrocesso danado”.
Também deixamos de construir hospitais enquanto nos
vangloriávamos de termos vencido a concorrência para realizar as Olimpíadas de
2016 no Rio de Janeiro. Sabemos hoje que nas duas competições houve fraude na
disputa pela indicação, e o Brasil ganhou as duas com a ação de atravessadores
e lobistas, brasileiros e estrangeiros, comprando os votos de delegados.
A Copa do Mundo de futebol deixou na nossa memória uma
vexaminosa derrota por 7 a 1 para a Alemanha, que acabou sendo a campeã. Mas
deixou também inúmeros elefantes brancos construídos a preços superfaturados,
que geraram diversos processos criminais por corrupção.
Inclusive o Itaquerão, onde se realizou a abertura da Copa,
em São Paulo, e o Maracanã, palco da final. O Itaquerão, aliás, foi denunciado
pela Odebrecht como tendo sido construído por pressão do então presidente Lula,
torcedor fanático do Corinthians.
Pelo Brasil, estão espalhadas diversas arenas esportivas que
se transformaram em problemas para os governadores dos 12 Estados em que foram
construídas, a maioria deles sem torcidas capazes de enche-los em jogos do
campeonato local. Aliás, o Brasil teve 12 sedes, e não 8, por pressão do
presidente Lula e da CBF, para agradar politicamente alguns estados.
Hoje, ironicamente, vários deles estão transformados em
hospitais para o enfrentamento da crise do Covid-19: em São Paulo, o Pacaembú
será um hospital administrado pelo Albert Einstein, e o Itaquerão possivelmente
será usado também.
Em Fortaleza, o estádio Presidente Vargas terá 204 leitos,
que podem ser transformados em UTIs. Em Brasília, o Mané Garrincha, que até
pouco sobrevivia comprando o mando de campo de times com grandes torcidas, como
o Flamengo, agora virou hospital. O Nilton Santos, no Rio, a Arena da Baixada,
no Paraná, o da Ilha do Retiro, em Pernambuco, todos estão se transformando em
hospitais para receber os infectados pelo Covid-19.
Coube à então presidente Dilma, que fora reeleita em 2014,
abrir a Copa do Mundo. Como acontecera um ano antes, em 2013, na abertura da
Copa das Confederações, a presidente foi vaiada assim que seu nome foi
anunciado pelos alto-falantes, e ela nem pôde falar. Reflexos da insatisfação
que reuniu, em 2013, as maiores manifestações contra Dilma nas ruas do país,
eventos que deram início à derrocada da presidente até o impeachment em agosto
de 2016.
Os panelaços foram indicador preciso da crescente
insatisfação do povo contra a presidente Dilma Rousseff, mas o processo de
desgaste político foi lento e aconteceu concomitantemente ao crescimento das
investigações da Operação Lava-Jato, que colocou o PT diante de provas
irrefutáveis do maior esquema de corrupção já descoberto no país.
Junto com a trágica realidade que enfrenta de ter que transformar
arenas esportivas em hospitais, fenômeno que de resto acontece em diversos
países pela gravidade da pandemia, o presidente Bolsonaro continua fazendo
bolsonarices, revivendo o Febeapá do inesquecível Stanislaw Ponte Preta. Na
época, durante a ditadura, era o Festival de Besteiras que Assola o País. Hoje
seria o Festival de Bolsonarices que Assola o País.
Após ter feito um discurso equilibrado e ponderado na
terça-feira, voltou ao seu normal ao divulgar um vídeo fake sobre uma suposta
falta de mercadorias na Ceasa de Belo Horizonte, para forçar uma mudança na
política de isolamento horizontal.
Os bolsonaristas gostam de opor a suposta falta de corrupção
em seu governo ao perigo que representaria o PT de volta ao poder. Como se
fossemos obrigados sempre a escolher o menos ruim entre os dois. Trocamos a
corrupção financeira em larga escala pela corrupção dos hábitos e costumes
nacionais, ambas provocando a deterioração da democracia brasileira.
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