O grande escritor brasileiro Rubem Fonseca, notável por sua
capacidade de relatar cruamente a violência física ou verbal de seus
personagens que espelham uma sociedade corrompida moralmente, escreveu um livro
de contos cujo título, “ , Secreções, excreções e outros desatinos”, trata de
temas escatológicos em diversas dimensões.
Até mesmo chegou a criar uma palavra, “copromancia”, que dá
nome a um dos contos, para definir a capacidade de fazer previsões analisando
as próprias fezes. Lembrei-me dele vendo o vídeo da reunião ministerial de
Bolsonaro, ao ouvir uma frase que, a princípio, não fez o menor sentido.
Referindo-se aos inimigos que estariam prontos a avançar
sobre a democracia brasileira, Bolsonaro disse a certa altura: “O que eles
querem é nossa hemorroida, a nossa liberdade”. A boca suja do presidente Jair
Bolsonaro não chamou a atenção apenas dos brasileiros, ganhou dimensões
internacionais. Os principais jornais do mundo noticiaram a dimensão politica
do vídeo, que estava em jogo, mas deram destaque ao linguajar presidencial.
Bolsonaro falou cerca de 30 palavrões diferentes, e outras
palavras chulas ou com sentido dúbio, como no caso da “hemorroida” colocada em
uma frase aparentemente por ato falho, ou como uma metáfora que precisa ser
explicada por uma mente pervertida.
Um amigo mais benevolente acha que o presidente quis dizer
“hemorragia”, no sentido de os inimigos quererem vê-lo sangrar, mas
confundiu-se. Mesmo nesse caso, a confusão seria uma revelação de preocupações
mais profundas de uma pessoa que sempre se revela disposto a brandir sua
masculinidade em tom de brincadeira, salientando que seu abraço é hétero, que
sua amizade por outro homem é hétero.
A compulsão por obscenidades, seja através de gestos ou de
palavrões, mesmo em situações sociais impróprias, é uma característica de um
tipo raro da síndrome de Tourette que se chama “coprolalia”. Assim como
“copromancia” inventada por Rubem Fonseca, a “coprolalia” usa o prefixo grego
“copro”, que se refere a fezes, para definir essa incontinência verbal.
O presidente Bolsonaro, na verdade, tem uma fixação com
figuras escatológicas, especialmente quando está pressionado. O mais deprimente
é ver-se como ministros procuram aproximar-se do presidente através de um
linguajar vulgar, como Paulo Guedes, da Economia, que em meio a uma exibição
patética de lustro intelectual, falava palavrões desnecessários, ou o
presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, sentado em frente ao
presidente, concordava balançando a cabeça acintosamente e, na sua hora de
falar, misturou bravatas com expletivos de baixo calão.
Na sexta-feira à noite, ao chegar ao Palácio Alvorada, o
presidente parou para falar com seguidores, e fez um longo relato sobre a crise
com o ex-ministro Sérgio Moro. Exaltado, continuou falando palavrões, mesmo
sabendo que a entrevista poderia estar sendo transmitida ao vivo.
Falou “no rabo de maus brasileiros”, vangloriou-se de que o
vídeo fora, na sua visão, “um traque”, e saiu-se com essa: “A montanha pariu um
oxiúro”. Referia-se a um verme de cerca de 15 milímetros, que cresce no
intestino dos mamíferos, incluindo os humanos. O principal sinal do oxiúro no
corpo é uma coceira anal intensa.
Freud dividiu a sexualidade infantil em várias fases, sendo
uma delas a anal, quando as crianças aprendem a controlar os esfíncteres da
bexiga e do intestino. A não superação desse estagio pode gerar personalidades
distorcidas.
Já houve tentativas de explicar o comportamento anormal de
Bolsonaro de diversas maneiras. Eu mesmo já escrevi sobre a possibilidade de
ele sofrer de uma síndrome pós-traumática depois da facada que recebeu durante
a campanha. Assim como o presidente americano Donald Trump já foi considerado
louco, também Bolsonaro é visto assim.
Mas psicanalistas o definem como sociopata. E a mania de falar palavrão pode significar apenas que é uma pessoa mal educada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário