O título é acaciano, eu sei. Mas vamos lá.
A história registra que a tática eleitoral do PT em 2018
acabou dando errado no segundo turno. No primeiro deu certo. Mesmo fortemente
fustigado havia anos, o partido levou seu candidato à final presidencial e
elegeu boas bancadas legislativas, além de manter razoável cota de
governadores, próprios e aliados. O que deu errado, para o PT, foi a eleição de
Jair Bolsonaro à presidência da República.
No desenho tático petista, a ida de Bolsonaro à decisão
permitiria, até forçaria, a formação de uma frente ampla antibolsonarista, e a
onda montante acabaria dando a vitória a Fernando Haddad. A história também
registra que essa frente nunca chegou a se formar, pois uma parte dos votos
potencialmente frentistas absteve-se, e outra votou mesmo foi no capitão. É a
fatia de mercado que até há pouco achava o governo regular mas apostava que
acabaria melhor.
Por uma dessas curiosidades históricas, a linha estratégica
do bolsonarismo rumo a 2022 é aquela mesma petista, só trocando o sinal. Supõe
que basta manter fiel algo em torno de 30% do eleitorado, apostar num replay da
polarização do segundo turno de 2018 e levar novamente a taça para casa
surfando na onda do antipetismo, ou do antiesquerdismo, ou do anticomunismo.
Tem lógica. Como tinha muita lógica a linha petista de 2018.
O que pode dar errado agora? A mesma coisa que deu errado em
2018. Na operação para manter a hegemonia no núcleo mais fiel da base, você
acaba produzindo atritos em volume suficiente, acaba isolando-se numa
intensidade cujo efeito colateral é dificultar lá na frente o reagrupamento.
Cria-se uma situação em que o adversário nem precisa se esforçar muito. Ele
acaba fazendo uma colheita de votos quase espontânea.
Talvez o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril não
venha a produzir maiores consequências jurídicas. Vamos aguardar. Mas já
produziu efeito político. Dificultou um pouco mais aos não bolsonaristas de
raiz apresentar o atual presidente como alternativa aceitável. Não chega a ser
irreversível, mas o quadro merece atenção. Também porque a ofensiva contra
certos importantes personagens institucionais vai pedir destes algum tipo de resposta.
E eles têm tempo para isso. A vingança, sabe-se, é um prato
que pode perfeitamente ser comido frio.
Entrementes, à esquerda basta esperar e assistir ao
progressivo descolamento entre a direita e o chamado centro. Esta semana o PT e
partidos aliados entraram com um pedido de impeachment. Talvez deva ser visto
como o cumprimento de um ritual. Aquilo que na política se chama “ocupar o
espaço para evitar que outro ocupe”. A esquerda fez o que dela se esperava. Se
não der em nada, sempre poderão dizer que fizeram algo.
Mas é visível, até palpável, o pouco entusiasmo na esquerda
pela ideia de impeachment. Se Bolsonaro é a instabilidade, o que viria na
sequência seria a estabilidade do mesmo projeto.
À esquerda basta agora assistir ao esgarçar da frente adversária,
avivando de vez em quando a fogueira que consome as boas relações entre a
direita e o dito centro. A reunião ministerial ofereceu matéria-prima abundante
para a continuidade do esgarçamento. Que poderá ser potencializado no momento
certo por o Brasil caminhar forte na disputa do pódio de mortes pelo
SARS-Cov-2.
E tem ainda a economia. Last but not least.
*Alon Feuerwerker é jornalista e analista político/FSB
Comunicação.
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