terça-feira, 19 de maio de 2020

DIÁRIO DA CRISE LIX

Do Blog do Gabeira
De manhã, vi algumas referências na internet sobre um menino de 14 anos, que sumiu em São Gonçalo, depois de uma batida policial.
Estava exatamente me preparando para comentar o assunto na tevê, quando soube que o menino apareceu: foi morto pelos policiais.
Aconteceu um clássico choque entre policiais e traficantes. João Pedro Mattos, esse é o nome do menino, estava distraído com adolescentes jogando games em casa.
Os traficantes fugiram lançando granadas. A casa de João Pedro, que nada tinha com o assunto, foi invadida pela polícia  que fulminou o menino. Aliás um menino que, fora da pandemia, limitava-se a ir de casa para a escola e frequentava um culto evangélico.
Nada mais estúpido que isso. Lembrei-me da entrevista que fiz com o coronel Alessandro Vissacro que estuda hoje nos Estados Unidos e é um especialista nas guerras modernas e assimétricas.
Teóricos como ele sabem que nesses confrontos, interessa à parte menos numerosa  que inocentes sejam mortos, pois isso a fortalece.
Em quase todos os conflitos assimétricos, vitimas inocentes são colocadas na linha de frente para serem mortas.
Todos os estudiosos desses conflitos sabem disso. As forças policiais deveriam saber também e preparar seus protocolos em função dessa realidade.
No caso de São Gonçalo não foi nem preciso esforço dos traficantes. A própria polícia chegou atirando a esmo, pois era evidente que cinco adolescentes em torno de um vídeo game não eram os traficantes que procuravam.
Infelizmente temos que conviver com essa incompetência assassina.
Ela leva vidas inocentes e faz com que, em última análise, além da injustiça da ação, o dinheiro público seja usado para matar pessoas de bem e fortalecer a tática dos traficantes.
O Wilson Witzel, governador do Rio, parece não dar a mínima para as distorções na ação policial. Está preocupado com o escândalo de corrupção que envolve seu governo: compra de respiradores e equipamentos para combater a pandemia.
Aliás a corrupção nessa área se estende a vários estados. Já mencionei o caso do Amazonas onde compraram respiradores numa loja e vinho. Há o o caso do Pará que comprou respiradores inadequados. Em Santa Catarina, assim como aqui no Rio, caiu o Secretário de Saúde. Mesmo motivo: superfaturamento em equipamentos médicos destinados a combater o coronavírus.
Se somarmos toda essa farra local com o comportamento errático de Bolsonaro, compreendemos que o coronavírus que é um forte inimigo em todos os países, aqui torna-se um inimigo invencível.
Não adianta dizer que o Brasil é muito grande. O Canadá é maior. Não adianta dizer que no Brasil mora muita gente. Na Índia mora muito mais.
Voltando à pandemia, mencionei ontem a disposição européia de tornar a vacina contra a Covid um bem global. Disse que era preciso combinar com os Estados Unidos.
Não deu outra.
A experiência mostra que os EUA defendem com muita ênfase o direito intelectual sobre os medicamentos. O país acha que uma disposição para tornar a vacina um bem global, desestimula  os investimentos, feitos na expectativa de lucros futuros.
Essa é uma história vivida à parte. Foi assim também na epidemia de AIDS. Vamos ver como o Brasil ficará nisso tudo. Espero que do lado da cooperação internacional.
A visão de Trump é inequívoca: America First.
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