Segunda-feira de muito trabalho. O dia começou meio cinzento
e no final da tarde abriu. A notícia importante sobre coronavírus: a OMS
suspendeu todos os testes com a cloroquinha e hidrocloroquina.
Um estudo muito amplo indicou que o remédio tende a provocar
arritmia nos pacientes.
Com isso, a cloroquina deve sair um pouco de cartaz. É uma
pena que não tenha sido a bala de prata que esperávamos no início. Quando li as
primeiras notícias sobre as experiências no sul da França fiquei superanimado.
Isso foi no comecinho da pandemia. Trump ainda não havia
elogiado a cloroquina. Muito menos Bolsononaro.
O remédio acabou sendo politizado no Brasil. O próprio
Bolsonaro que o colocou na agenda e comprou toneladas de insumos na Índia para
produzi-lo aqui, saiu-se com esta frase: a direita toma cloroquina, a esquerda
toma tubaina.
Será muito difícil Bolsonaro reconhecer sua precipitação.
Comprou cloroquina, demitiu dois ministros, fez um novo protocolo, e agora a
própria OMS encerra temporariamente suas pesquisas.
Uma pergunta importante: se a cloroquina faz mal, como é
possível que tenha sido vendido sem receita para os que tratam de malária ou
mesmo de lupus?
Encontrei uma resposta para isso, num médico especializado
em arritmia. Ele explica que pela natureza das duas outras doenças, as chances
de arritmia são menores do que no coronavírus.
O argumento da OMS, baseado no estudo, é precisamente a
arritmia que pode, em alguns casos, provocar a morte dos pacientes.
Independente de Trump ou Bolsonaro se a cloroquina fosse
mesmo a cura, estaríamos comemorando. Infelizmente não é.
Mas todo mundo continua pesquisando e acabaremos encontrando
vacinas, anticorpos ou mesmo antivirais. Na epidemia de AIDS foi preciso também
algum tempo para se chegar ao coquetel.
Bolsonaro está sendo muito criticado na imprensa mundial.
Ele afirmou que a imprensa mundial é de esquerda. Acho que se enganou. Jornais
como o Financial Times, revistas como The Economist, não são de esquerda.
Ambos estão disponíveis na internet e as pessoas com algum
conhecimento de inglês podem tirar suas próprias conclusões.
O que existe na verdade é uma grande oposição internacional
a Bolsonaro e ela atravessa todo o espectro político. Jornais como o Le Monde,
The Guardian, El Pais, estão mais próximos da esquerda.
Mas a tendência é Bolsonaro ter sempre repercussão negativa.
Trump, por exemplo, decidiu barrar a entrada de brasileiros
nos EUA. Isso foi mostrado como um baque para Bolsonaro, no New York Times.
Mas a verdade é que os voos para os EUA que eram 30 diários
já estavam reduzidos para 13 semanais. Trump já havia anunciado esta possibilidade
num encontro com o governador da Flórida, De Sanctis.
Essas medidas restritivas dos EUA foram tomadas em relação à
China, à Europa e ao próprio Reino Unido.
A única maneira de ver essa decisão técnica como um baque
para Bolsonaro é admitir que para Trump, o grande aliado do presidente, a
situação do Brasil é grave.
E Bolsonaro no seu comportamento cotidiano tende a mostrar
normalidade e defender que tudo volte à normalidade rapidamente.
Nesse ponto divergem. Trump diz que quer proteger a América
do Norte. America first. Ele quer também proteger sua reeleição.
O problema de Bolsonaro com Trump não é imediato. A médio prazo, os democratas podem voltar ao poder nos EUA. Aí então, a solidão de Bolsonaro será radical, como aliás é radical sua visão de mundo.
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