Terça-feira intensa no Rio. A Polícia Federal entrou no
Palácio do Governo para levar documentos, numa investigação contra o próprio
Governador Wilson Witzel.
O escritório da mulher de Witzel, Helena, também foi
vasculhado e de lá levaram contratos de advocacia com empresas suspeitas de
corrupção.
Estranho destino do Rio. Parece que vivemos um mesmo enredo,
com personagens diferentes. Sérgio Cabral tinha uma mulher advogada que também
fazia contratos suspeitos de canalizar dinheiro ilícito para o casal.
Mas tenho comentado o assunto com muito cuidado. A operação
da PF foi anunciada com antecedência por uma deputada bolsonarista. O próprio
Bolsonaro apareceu sorrindo, cumprimentando a PF pela sua operação no Rio.
Tenho tentado buscar o equilíbrio. Se foco apenas nas
suspeitas contra Witzel, sobretudo as ligadas aos hospitais de campanha, temo
deixar de lado essa possibilidade de interferência de Bolsonaro na PF do Rio.
Ele sempre sonhou em proteger sua família e perseguir seus adversários. Foi por
isso que disse a Moro: você tem 27 superintendências , quero apenas uma, a da
PF do Rio.
Por outro lado, se enfatizamos apenas a interferência de
Bolsonaro, corremos o risco de subestimar a corrupção que, de resto, parece
estar acontecendo em toda parte. Houve denúncias no Amazonas, Pará, na
prefeitura de Fortaleza, já caíram os secretários de saúde do estado do Rio e de
Santa Catarina.
Rodrigo Maia fez um discurso em defesa da democracia que os
comentaristas acharam duro. Achei brando, suave, sobretudo num pais em que o
presidente fala em armar a população para combater a quarentena ou qualquer
outra medida que achar autoritária.
E falo isso diante de generais silenciosos e contentes.
Critico o tom daquela reunião ministerial. Parecia conversa
de botequim. Mas para enfrentar esse tipo de discursos é preciso falar mais
claro para a população.
Se a democracia está em perigo é preciso dizer de onde vem
esse perigo e qual são os últimos indícios dele, como, por exemplo, a nota do
General Heleno condenando uma medida burocrática de Celso de Mello, ameaçando
com uma crise institucional.
O general Heleno participou de um grupo militar que quis dar
um golpe no Geisel, queria também um governo militar. Imagine o que pensa de
instituições civis.
Heleno foi comandante no Haiti. Fala bem o francês, move-se
com habilidade nos círculos internacionais. Visitei o Haiti na época e foi muito
cordial comigo.
Deixou o posto depois de uma incursão das forças da paz na
favela Cité Soleil que provocou muitas mortes. Alguns dizem que mais de 60, o
general Urano, sucessor de Heleno, diz que foram nove.
Como ministro do GSI, Gabinete Institucional de Segurança,
foi criticado por Carlos Bolsonaro após a prisão de um oficial da Aeronáutica
na Espanha. Ele levava cocaina em grande quantidade e viajava na comitiva de
Bolsonaro, no grupo de apoio.
Depois das críticas, Heleno ficou mais radical, talvez para
conquistar o chamado grupo ideológico que ameaçava devorá-lo.
Heleno foi também comentarista de televisão, portanto um
colega. Fazia comentários sobre segurança pública na Bandeirantes.
Ironicamente a Band, Globo, Folha e outros veículos enviaram
uma carta para ele, ontem, avisando que não cobririam mais o Palácio da
Alvorada. A razão são os insultos dos bolsonaristas raivosos, estimulados pelo
discurso do presidente.
Heleno virou a face militar do golpe que se desenrola em câmera lenta no Brasil.
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