Na semana passada, o ministro Ernesto Araújo tomou uma
providência para conter o fluxo de más notícias sobre o Brasil. Proibiu o envio
de reportagens publicadas aqui para os postos diplomáticos no exterior. A
tentativa de censura já seria inócua no tempo do telégrafo. Na era da internet,
soou apenas como birra de um chanceler sem medo do ridículo.
Ernesto anda irritado. No início do mês, sete exministros
redigiram um artigo crítico à sua gestão desastrosa no Itamaraty. O texto
afirmou que a política externa em vigor afronta a Constituição, mina a
credibilidade do país e afugenta os investidores internacionais. Era tudo
verdade, mas o olavista não gostou de ser confrontado com o espelho.
Numa série de tuítes enfezados, ele disse representar o
“Brasil de verdade”, em oposição à “mídia uniformizada” e a uma “ordem mundial
totalitária”. Ilustrou o discurso delirante com uma foto de bolsonaristas em
marcha na Esplanada. A mesma turma que veste amarelo para louvar o capitão e
clamar por um golpe fardado.
O artigo que enfureceu Ernesto foi assinado por ministros
dos governos Collor, Itamar, FH, Lula, Dilma e Temer. Eles superaram as
divergências ideológicas para se unir contra a destruição do Itamaraty.
É duro admitir, mas a torturar os fatos e atuar como agentes
de propaganda do bolsonarismo. É o caso do embaixador em Washington, Nestor
Forster, que se orgulha de ter apresentado Ernesto ao guru da Virgínia. Agora
ele ganhou a concorrência de Luís Fernando Serra, chefe da missão em Paris.
Na terça, o ambassadeur enviou uma carta furibunda ao jornal “Le Monde”. O motivo foi um editorial recheado de críticas a Jair Bolsonaro. Dizendo-se “indignado” com o diário francês, Serra negou que o presidente tenha politizado a pandemia. Também alegou que os governadores só teriam decretado medidas de isolamento para “derrubar os excelentes indicadores econômicos apresentados pelo governo Bolsonaro em 2019”. Só faltou culpar os desafetos do capitão pelo fechamento do Louvre e da Torre Eiffel.
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