Entrevista explosiva de empresário agrava a situação dos
Bolsonaro
Quem deu ordem à Polícia Federal para suspender a operação
que em meados de outubro de 2018, entre o primeiro e o segundo turno da
eleição, tornaria público o envolvimento da dupla Flávio Bolsonaro-Fabrício
Queiroz no caso da apropriação criminosa de parte dos salários pagos a
funcionários da Assembleia Legislativa do Rio?
A Polícia Federal só age a mando da Justiça. É ela que
autoriza suas operações a pedido do Ministério Público. Justiça e Ministério
Público são informados quando a Polícia Federal, por alguma razão técnica, adia
uma operação que tinha data marcada. Isso torna mais grave o que foi revelado
hoje pela Folha de S. Paulo.
Suplente do senador Flávio Bolsonaro, o empresário Paulo
Marinho contou à colunista Mônica Bergamo o que diz ter ouvido de Flávio em
reunião na sua casa na quinta-feira dia 13 de dezembro de 2018. Foi na casa de
Marinho que o então candidato a presidente Jair Bolsonaro gravou seus programas
de propaganda eleitoral.
Uma semana antes do primeiro turno, o ex-coronel Miguel
Braga, atual chefe de gabinete de Flávio no Senado, recebeu um telefonema de um
delegado da Polícia Federal no Rio dizendo que tinha um assunto do interesse do
senador eleito e que por isso queria encontrá-lo. Flávio preferiu mandar Braga
ao encontro do delegado.
Braga voou para o Rio. Ali, na companhia de um advogado e de
Val Meliga, pessoa da confiança de Flávio e irmã de dois milicianos, rumou para
a Praça Mauá onde funciona a Superintendência da Polícia Federal. Do prédio,
saiu o delegado que Flávio não diz o nome. Ainda na calçada, avisou a Braga
mais ou menos assim:
– Vai ser deflagrada a Operação Furna da Onça, que vai
atingir em cheio a Assembleia Legislativa do Rio. E essa operação vai alcançar
algumas pessoas do gabinete do Flávio. Uma delas é o Queiroz e a outra é a
filha do Queiroz, que trabalha no gabinete do Jair Bolsonaro em Brasília.
Aconselhou em seguida:
– Eu sugiro que vocês tomem providências. Eu sou eleitor,
adepto, simpatizante da campanha [de Bolsonaro], e nós vamos segurar essa
operação para não detoná-la agora, durante o segundo turno, porque isso pode
atrapalhar o resultado da eleição.
Braga avisou a Flávio, que avisou ao pai, que ordenou que
ele demitisse Queiroz do seu gabinete de deputado estadual e disse que faria o
mesmo com a filha dele. De fato, os dois foram demitidos no dia 15 de outubro.
Bolsonaro elegeu-se presidente no dia 28. A operação da Polícia Federal só foi
deflagrada no dia 8 de novembro.
Àquela altura, Sérgio Moro já fora convidado para ministro
da Justiça. O convite se deu entre o primeiro e o segundo turno da eleição,
intermediado por Paulo Guedes. Pouco antes do primeiro turno, Moro divulgara
parte da delação feita por Antonio Palocci, ex-ministro de Lula e de Dilma, com
pesadas acusações contra o PT.
O que há de mais explosivo na entrevista de Marinho à Folha
não é o relato da reunião com Flávio. É a revelação de que o ex-ministro
Gustavo Bebbiano, demitido do governo por Bolsonaro, deixou um celular com
mensagens em áudio e vídeo trocadas por ele com o presidente durante mais de um
ano. Está guardado nos Estados Unidos.
O vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, em que
Bolsonaro ameaçou intervir na Polícia Federal, virou uma bombinha se comparado
com o celular de Bebbiano – esse, nitroglicerina pura. A história contada por
Marinho ajuda a explicar por que Bolsonaro quer há tanto tempo a Polícia
Federal sob seu controle direto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário