Fenômeno mundial, a pandemia atinge e agrava a situação
econômica em todos países. Estados Nacionais, no entanto, existem para
antecipar e mitigar problemas do tipo. Sua ação é inevitável.
Naturalmente, empresários de todo o planeta defendem seus
interesses e querem soluções rápidas. Mas, em poucos lugares se fez tanto pelo
agravamento do quadro quanto no Brasil. Aqui, foi explícito o boicote contra a
única forma de abreviar o drama: a política de distanciamento social. A
história é sabida, por atos e palavras, o presidente da República piorou a
situação com que dizia se incomodar. Foi desserviço à própria economia.
Nesta quinta-feira, Bolsonaro talvez imaginasse atravessar o
Rubicão. Mas, o que lhes sobrou foi o ato cênico de uma extravagante marcha
pela Praça dos Três Poderes. Triunfo de nada, mais que inútil foi constrangedor.
Gesto de enfrentamento? Talvez fosse intenção, mas restará como história do dia
em que um presidente da República espontaneamente submeteu seu Poder a outro,
como se Dias Toffoli fosse o verdadeiro chefe de Estado.
Foi desconcertante assistir a um embaraçado presidente do
STF dizer a Jair Bolsonaro, nas entrelinhas, que o presidente da República é
ele, Jair, não Toffoli; que é tarefa do Executivo, não do Supremo, planejar
ações, construir consensos, articular atores políticos e a sociedade – governadores,
inclusive. Pois, quereriam mais o que aqueles senhores?
Signo do improviso, a “marcha” talvez se pretendesse “Marcha
sobre Roma”, de 1922, mas foi mais um eloquente grito de amadorismo. Espetáculo
constrangedor que, ao final, mais pareceu batida em retirada de tropa
desorganizada, sem projeto e sem comando. Agradará aos fanáticos de sempre, mas
não se comunica com a nação nem apresenta saídas. Existem lugares de onde não
há volta.
*Carlos Melo, cientista político. Professor do Insper.
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