quarta-feira, 27 de maio de 2020

FASCISMO DE SEGUNDA

Editorial Folha de S.Paulo

No vídeo da infame reunião ministerial de 22 de abril, divulgado na última sexta (22), o presidente Jair Bolsonaro defendeu mais de uma vez a necessidade de “armar a população” como antídoto à ascensão de ditadores.

O pensamento está em linha com o que pregava Benito Mussolini nos anos 1930 e 40. O populismo tosco e perigoso de Bolsonaro flerta com o fascismo italiano também no ódio à imprensa independente.

Na mesma reunião, o presidente refere-se a esta Folha e a outros órgãos da mídia com expressões de baixo calão. Palavras têm consequências, como já teve de lembrar este jornal recentemente.

Nos dias seguintes à divulgação do vídeo, elevou-se a intensidade dos impropérios dirigidos pelos fanáticos de plantão aos repórteres que, por dever profissional, são destacados para cobrir o presidente no Palácio Alvorada.

Na segunda (25), decerto inspirado pela etiqueta do chefe, vomitaram palavrões contra os jornalistas que tentavam realizar seu trabalho. A falta de segurança levou a Folha e veículos como UOL, Globo e outros a suspender temporariamente a cobertura ali.

Após a decisão, o Gabinete de Segurança Institucional, comandado pelo general Augusto Heleno, divulgou nota em que se compromete a continuar aperfeiçoando a segurança do local. Faltou combinar com o presidente: horas depois, Bolsonaro fez graça da situação.

E, de novo, faltou com a verdade. “Estão se vitimizando. Quando levei a facada, eles não falaram nada”, disse. No entanto neste espaço, o jornal publicou vários textos condenando o ato desvairado contra o então candidato ao Planalto.

A escalada fascista alimentada por gabinetes de ódio que seguem os humores do supremo mandatário se nota em outras ações. Nesta terça (26), o jornalista William Bonner, da TV Globo, relatou que ele e família sofrem campanha de intimidação por desconhecidos.

Dias antes, em ato contra instituições democráticas, manifestante acertara uma repórter com a haste de uma bandeira. Em vez de condenar tais fatos, o presidente segue em seus delírios persecutórios.

Disse que “a imprensa internacional é de esquerda”, ao comentar críticas que sofre de órgãos estrangeiros. Falava de títulos como Financial Times e The Economist, bíblias do liberalismo econômico. Não se trata de esquerda ou direita, mas de bom senso e competência, artigos em falta no atual governo.

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